1. "Narram os céus a gloria de Deus, e o firmamento anuncia a obra de suas mãos. O dia ao outro transmite esta mensagem e uma noite à outra se repete. Não é uma língua nem são palavras, cujo sentido não se perceba, porque por toda a terra se espalha seu ruído, e até os confins do mundo sua voz." ( Salmo 18,vers. 5). Os cientistas na aguçada visão de suas observações, estudos e pesquizas sempre se debruçaram sobre esta dança misteriosa dos astros em evolução milimétrica, esta efeméride silenciosa, grandiosa, muitas vezes não vista a olho nú.
2. Neste azul imaginário se confundem planetas, sóis, e uma infinidade de corpos celestes em harmonia na imensidão do espaço sideral, a cada dia novas descobertas, desde a antiguidade a misteriosa via láctea foi objeto de estudos dos astrônomos e os reis magos viram no oriente a estrêla que os guiaria até belém.
3. Uma surprêsa a outra se sucede, e Amstrong pode pisar em solo lunar, e o curiosity encontra-se em Marte, e a missão espacial Klepler as voltas com a descoberta da estrela binária a orbitar entre si em 7 dias e meio, um mimo da criação.
4.É neste descortínio de horizontes, da clareza da obra de Deus, o universo, que se insere um gênio, um santo, poeta, mistico, filósofo, teologo, apologista de nomeada que escreveu estas palavras cristalinas: " O amor é a fôrça motriz do mundo humano, a razão que governa os homens e os faz dançar à sua música."
5. Seu nome até hoje fulgura como sinônimo de inteligência, lucidez, nos meios acadêmicos, na Igreja e na sociedade. Passados 1582 anos de sua morte em Hipona na África ele é atual, de uma atualidade clara e transparente, como foi seu pensamento. Trata-se de Aurelius Augustinus, nascido em 354 em Tagaste ( Argélia), africano da gema, cidadão romano. Seu pai Patrício e sua mãe Mônica que professava o cristianismo com convicção e entusiasmo foi a mãe e mestra que recolocou o seu filho na senda da justiça e propiciou-lhe, como afirma Santo Ambrósio a salvação pela suas lágrimas.
6. Bom, é sobre este homem espetacular, humano, misericordioso, impetuoso na sua fé que pretendo dizer algumas palavras de reconhecimento, avivar na memória do leitor as qualidades, virtudes, embates e conquistas no campo do pensamento e virtudes pessoais que o guindaram, ao grau de estrela maior da cristandade e inspirador da Idade da Luz, conforme concordam inúmeros estudiosos da era patristica.
7. Este gênio imortal 'apareceu' na soleira de minha porta e disse: -'Poeta, toma e lê' meus escritos que estou contigo em sua dissertação. Se não fôsse ele ou seja sua inspiração, me entendam bem o caso passaria batido, mas há algum tempo que tenho pensado em sua palavras de uma melodia doce, suave, forte e que tudo tem a ver comigo e acho que o momento atual,do tempo que estamos vivendo merece uma atenção especial, máxime daqueles antenados nos rumos tortos de um mundo sem razão, onde a fé passa longe, e a graça divina não encontra mais campo para semear sua felicidade.
8. E na contigência que nos é peculiar 'de um tempo que deixa de ser', são palavras de Agostinho, '... o pretérito longe outra coisa não é senão a longa lembrança do passado', que vou trazer para vocês amigos, um pouco de seu colírio para refrescar nossos olhos por demais embaçados pelas ondas da resolução pragmática e vazia de sentido existencial, quando focada no sensorial.
9. Guardadas as devidas proporções, um tempo enigmático bem parecido com o dele, um tempo em que tocamos a curva da história, qual a avalanche bárbara que invadia Hipona no ano de sua morte em 28 de agôsto de 430. Como definir um gênio, se quem lhes escreve possui a autoridade de um rélez poeta? No entanto vou prosseguir estudando consigo o perfil de um homem persistente em busca da verdade, um homem de inteligência privilegiada, de humildade arrebatadora, que plasmou o mundo bom das certezas empíricas e devolveu ao criador as honras devidas, usurpadas pelos pseudo intelectuais no decorrer de toda a história humana.
10. Ao aceitar este convite inusitado da inspiração, apressei-me a escrever e confesso que a gente parece, não andar, mas elevar vôos e mais vôos de prece neste quase infinito panorama que é a vida, escritos e devoção de um dos mestres mais importantes e atuais, mais iluminado que o mundo conheceu e ainda tem muito o que conhecer. Desvendar Agostinho é revelar Deus ao mundo 'pagão' prático hodierno. Seus escritos são eternos, a prodigalidade deles assemelha-se à providência divina, sua filosofia dá equilíbrio ao planeta, sua teologia abastece nossa alma de sustento forte, sua apologia desafoga nossa fé das correntes infernais, sua humildade encanta a cada passo, sua exegese patristica afiança o bom fermento e a certeza da visão beatífica, sua psicologia acalma nossos gritos existenciais.
11. Em uma palavra, Agostinho tornou-se por vontade do Criador um ser necessário na vida da Igreja e da sociedade, pois ele conhece Deus, ama a sua Igreja, e entende os meandros da alma humana. De tal maneira ele é universal que ao lermos qualquer trecho de seus escritos imediatamente vai morder docemente alguma parte escondida de nossa alma e nós vamos pensar: Epa, esse aí me conhece melhor do que eu e nada passa batido à sua percepção.
12. Muito se tem falado sobre ele no campo filosófico, da exegese que destrinchar de um só fôlego o alcance de sua influência na área do pensamento seria tarefa por demais árdua ao meu conhecimento e ao propósito destas rimas mínimas. Muto se tem discorrido a respeito da sua patrística e o alcance dela no panorama universal. Mesmo antes de inventarem a psicanálise ele já tinha caminhado pelo campo da psique humana, revelando em suas confissões os meandros obscuros da alma, suas perplexidades e incógnitas da existência.
13. Estamos falando a respeito de um homem de visão iluminada, um homem que compreendeu a graça divina no comércio de nossa salvação eterna, um homem do perdão, da humildade, da liberdade, da paz social, enquanto emanação do ser supremo; o tempo em suas mãos toma outro sentido, o sentido de Deus. Um homem de fé prática e contagiante, que não limava a linguagem, a poesia, a retórica por limar apenas, mas como um exercício prazeroso de transcendência.
14. De carácter irriquieto, provou os erros do maniqueismo, espécie de gnose entre o bem e o mal, uma filosofia sincretista que tentou reunir a doutrina de Seth, Zoroastro, Buda e Cristo num só compêndio como normas do desenvolvimento interior. Santo Agostinho, quando buscava a verdade, fora influenciado por esta doutrina dualista e após se desvencilhar de suas peias, desenvolveu à luz dos ensinamentos da Igreja a doutrina do bem e do mal, da graça e da transcedência da alma, a vida da graça como meio para alcançar a salvação eterna na visão beatífica de Deus. A necessidade do arrependimento, os sacramentos para sustentação da caminhada rumo ao Pai das Luzes.
15. A precariedade da vida humana encontrou nele explicação ao mostrar Deus e a amá-lo, acima de todas as coisas. Agostinho abriu-nos as portas da felicidade, nele o divino torna-se paupável, a verdade eterna palatável, o féu, doce, o difícil, fácil, o eterno cognoscível, o mistério, acessível. Ao acompanhá-lo no seu raciocínio, seu coração vai palpitar de amor a Deus e seu coração fragilizado por esta existência fugaz vai pulsar em um outro ritmo, o do espírito.
16. E em pensar que viveu em uma época difícil, de transição histórica e de turbulências que sacudiram as bases do império dos césares; em meio ao borborinho de espadas, legiões e de invasões, Agostinho manteve a serenidade e a percepção além da realidade em suas duas cidades.
> E vai logo confessando: '...Ó Deus e Senhor nooso! Esperemos ao abrigo de tuas asas, protege-nos, leva-nos! Tu levarás os pequeninos, e até escarnecidos tu os levarás, nossa firmeza só é firmeza quando está em Ti; mas quando depende de nós, então é debilidade. Nosso bem vive sempre em Ti, e somos perversos porque nos afastamos de Ti. Voltemos já , Senhor, para não nos aniquilarmos, porque em Ti vive nosso bem, sem deficiência alguma;sem medo de não o encontrar quando voltarmos para nossa origem e, embora ausentes, nem por isso desaba nossa casa, tua eternidade.' (As Confissões,- Livro 4, cap. xiv)
17. Quanto mais a gente se dispõe a estudar suas obras e sua vida, mais aparece as maravilhas deste santo da primeira era cristã, tão distante nas datas, tão próximo conhecedor de nossos problemas. A universalidade dele espanta aos céticos e entusiasma àqueles que tem fé. Ele alicerça suas teses, enxerga os últimos acordes de um império, enxerga a pax romana se pulverizar em revoluções intestinas, em incursões dos bárbaros, em impostos exorbitantes, em escravidão do homem, nos cultos pagãos, no endeusamento do seu césar, ele vê uma multidão ávida de sangue, espetáculos fúteis, diversões, as mais estranhas.
18. E o Gênio de Cartago, Hóstia e Hipona vislumbra o nascimento de uma outra civilização, e ele trabalha para que ela seja na verdade e justiça, a imagem da cidade de Deus na terra, para que a sua vontade seja feita aqui como acontece nas regiões do céu. Não poupou admoestaçãoes, e em meio à sua retórica sublime sinalizou o novo tempo - que veio de fato e chamamos a era da Luz ou Idade Média.
19. Quando muitos estadistas de seu tempo se desesperavam ao ver a orda dos bárbaros às portas de Roma, Cartago e Hipona ameaçando o sistema romano, ele saudou a vontade de Deus que encaminhava os acontecimentos com outra finalidade, contrária ao poder, mando, escravidão, vigentes. Esse foi Agostinho, aclamado sacerdote pelo povo de Hipona, mais tarde sagrado bispo e que seguiu Cristo bem de perto. Ele entrou no altar de Deus, para dele nunca mais se apartar, e na generosidade de seu coração repartiu com a humanidade o conhecimento, o saber e unção advindos do coração sapiencial de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Helder Tadeu Chaia Alvim