segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Obrigado por me trair...

obrigado por trair...

1.Dias antes Louda Iskariôth, galgado à condição de apóstolo, tinha estado na aldeia de Queriot-Ezron, sua terra natal distante de Hebron uns 20 km, e não trazia boas notícias da sua família, pois um irmão seu estava atolado em dívidas e por conseguinte um certo sicário, sabedor de suas ligações com a 'seita' do Nazareno lhe propôs algo inusitado...

2.Já aproximava O Péssach das noites iguais, a primavera começava a florir os lírios do campo contrastando com o espírito transtornado de Louda Iskariôth. O templo de Salomão fora testemunha ocular de um acordo tenebroso entre Louda e Yosef Bar Kayafa. Este temendo as influências do Nazareno deliberou com o conselho dos anciãos sua morte a pretexto de salvar os de sua raça.Ah! o povo eleito e amado por Deus, objeto de tanto desvelo, berço de profetas e legisladores do naipe de Abraão, Moisés, Jeremias, Elias, Gedeão, Macabeus, entre outros...

3. Neste contexto de intrigas, poder, interesses escusos e maquinações que aparece Louda como um possível aliado a franquear aos inimigos de Cristo uma entrada na fortaleza apostólica recém instituida.

4.Hierosolima - a cidade real  estava movimentada naquela semana, judeus advindos de toda a parte se preparavam para os festejos. Ainda estava no ar o perfume de um cortejo que vislumbrou um rei montado num jumentinho e ovacionado pelos meninos dos hebreus: portando ramos olivarum:'Hosanna ao filho de David...'

5.'Pois não era um inimigo que me afrontava; então o teria suportado. Mas eras tu, homem meu igual, meu guia e meu íntimo amigo.'Salmos 55: 12-13. Louda, distinguido e escolhido pelo mestre iria se tornar na história universal um saqar,espécie de patrono de toda a vilania. Isto a troco de 30 moedas de prata.

6. Algum tempo atrás em Betânia ele reclamou do 'desperdício' do bálsamo de Maria de Magdala ao ungir os pés sagrados do mestre adorado.Na qualidade de ecônomo dos doze ele 'pretendia' vender o pote de alabastro e seu conteúdo para 'ofertar aos pobres'...

7.Desconfio que Louda seguira Jesus animado pela perspectiva terrena de um libertador de Israel, frustrado em seus anseios não teve a sensibilidade necessária para entender a obra salvífica a que fora convidado a colaborar. Enfim o negócio fora concluído com êxito e estava em curso a maior, a mais odiosa traição de toda a história humana.

8.Um último olhar ao templo de suas aspirações terrenas,uma última lembrança do mestre e seus prodígios. Mas, possuído pelo anjo decaído Louda se esgueirou soturnamente pelas colunas do pórtico de Salomão e se misturou ao alarido daquele fim de tarde mercantilista.Há muito que o povo eleito perdera a crença no Messias salvador.Ele estava no meio deles e o rejeitariam na cruz, profeririam diante da autoridade romana a blasfêmia deicida, ' que seu sangue caia sobre nós e nossos filhos...'

9.Louda, revestido com a túnica dos seguidores do  caminho, ainda
num faz de conta cínico teve a audácia de comparecer ao cenáculo, deixar-se lavar os pés, partilhar do pão na última ceia. Ao mestre que nada passava batido e na bondade e misericórdia de seu coração disse aos seus Apóstolos que tinha ardentemente desejado aquele momento... E intuindo a maldade de um coração o empurra para a consecução de seu projeto pérfido: ' vá e o faze logo!'

10.Estava finalizado o ato, era véspera do dia mais trágico do mundo, a redenção do gênero humano estava em curso, o sacrifício do gólgota um passo necessário para aplacar a ira do Padre Eterno.Tudo tinha peso, conta e medida e o tempo de Deus não era o tempo de Louda. As profecias estavam prestes a se cumprir...

11.'- Amigo a que veio?' Está desperdiçando sua alma, o filho do homem será entregue, é inevitável, mas aí de quem o entregar! Já era noitinha e o Getsemani se vira iluminado por archotes de soldados a soldo do templo. Após aquele ósculo demorado, o ato mais vil da história humana teve lugar, a pior atitude, enleada pela perfídia se concretizou. Um mercador péssimo entregou seu  amigo Deus nas mãos dos malfeitores, nas mãos da inveja. A traição se consumou e trouxe todas as consequências redentoras.

12.Noite trágica aquela da primeira quinta feira santa, noite em que o cordeiro será entregue para a expiação dos pecados do mundo. A paixão dolorosa começava,Simão Bar Jonas,após um frêmito de coragem, iria negar por três vezes o Mestre, iria se arrepender na sequência, fulminado pelo  olhar do amigo e  mais tarde  se tornaria a coluna da Igreja, nascida do lado aberto de seu amigo Cristo. Louda Iskariôth, ao contrário, vai se desesperar e buscar a fuga no suicídio.

13.Diferente deste, o grande pescador, o arrebatado Pedro, humilde, lhano, após o epísodio do horto das oliveiras e a negação  teria naquelas circunstâncias refletido muito, teria se lembrado das bodas de Caná em que pelos rogos de Maria o mestre transformara água em delicioso vinho.E querendo realizar tudo o que ele disse, se achegou da Janua Coellis, e levantou-se para prosseguir sua missão de pedra ao longo da história.

14.Duas atitudes de alma contrastantes, uma de arrependimento sincero, a outra de completa desesperação, o mercador péssimo com um horrendo ósculo se perpetuou como traidor e arrastou consigo  todos os que maquinaram a morte do justo.

15. O Pedro eterno de nossas canções continua vivo na Igreja contra as portas inferi qui non prevalebunt adversus ea. A caridade de Cristo urgiu mais forte e venceu o mal com a ressurreição ao terceiro dia após a crucifixão.

16.Jesus Cristo antevendo todas as traições da história humana, umas por fraquezas, outras por maldades deliberadas suara sangue no Getsêmani das dores e de seu peito sagrado saíra um brado lancinante a ecoar pelos séculos afora até a consumação do tempo:'Vigilate et orate ut non intretis en tentationem. Spiritus quidem promptus est, caro autem infirma!'

17. E um anjo veio consolar-lhe e Jesus viu o tempo, a grande batalha de Pedro, o pescador de almas, Lino, Cleto, Clemente e uma plêiade de santos que iriam aderir sua Igreja e difundir o seu evangelho do amor. Viu uma multidão de mártires, confessores, doutores, gente simples do povo que iriam alargar na caridade o seu reino até o extremo de suas fôrças.

18. Viu as apostasias, as heresias soprar o veneno de Louda, viu pastores contrariar sua doutrina pura, viu a verdade deturpada, a cátedra de Pedro ser sacudida por ventos adversos, viu a trajetória da humanidade a singrar os mares revoltos da existência.

19. Viu a nossa era quântica dos nióbios na encruzilhada do mundo bom, onde a passarela da moda, o consumismo e a inexatidão da alma dão o tom sinistro em meios à tecnologia da informação e da alta definição. Viu tantos egos exacerbados, tanto poder e ambição na política, tantos desvarios morais na sociedade, tanta manipulação e tanta desesperação de Louda...

20. Ah! a traição, em prosa e versos cantada parece fazer parte da literatura humana, em cada era aparecem as clássicas de arrepiar e houveram tantas. Governos, nações, indivíduos a todos ela enleia em sua malha infernal. E são tantos os casos desta perfídia que ultrapassam em muito as estrelas do céu, a areia do deserto, o respirar dos homens e o conhecimento curto deste poeta mínimo.

21. Quem já não sentiu sua punhalada, me diga? Ela fere, dói na alma, destrói sonhos de fidelidade, ela carcome o tecido da sociedade, ela inveja, ambiciona, mata as uniões conjugais e espalha seu ar fétido por onde passa.Ela enrrola, alicia, seduz e promete o que não tem. Mente, pretende o status de normalidade.

22.Louda Iskariôth, começou a era das traições e ao longo do tempo fez escola, arregimentou seguidores e passou para a nomenclatura como Judas Iscariotes, aquele que traiu o mestre.O poeta  decano Fernando Pessoa deixou anotado: '...traído sim, mas ridículo nunca!'

23.A traição, qualquer que seja, traz em seu bojo o relativismo, a aparência doce, que aos poucos destila seu veneno fatal e sepulta mais cedo ou mais tarde seu usuário na tumba fria de sua maldade. 

24. Aqui jaz alguém que quebrou o contrato de confiança com seu próximo. Alguém que amanheceu seus dias e seus atos não foram condizentes com o mundo bom. Alguém que nas suas atitudes plantou o mal deliberadamente e colheu crises existenciais pavorosas.

25. Alguém que anoiteceu suas noites na volúpia de uma enganação fugaz. Mesmo assim eu lhe perdoo por me trair... pois sua natureza não sabe muitas das vezes o que faz!

                     Conclusão

a. Sete e sete são quatorze, três vezes sete vinte e hum. O tempo passou depressa, a trama de Louda exemplificou o abismo insondável da maldade, a confissão de Pedro e sua posterior abnegação incomensurável a fôrça da verdade que lançou as bases da cidade eterna nas barbas enfatuadas da cidade dos homens.

b. E vieram outros e outros seguindo a esteira de sua fé, continuadores da canção de Deus na terra: 'Pater noster qui es in coellis santificetur nomem tuum, adveniat regnum tuum, fiat voluntas tua sicut in coellis et in terra...'Uma realidade, uma prece, um anseio coletivo de realização plena, ainda em curso...

c. É a lei do tempo soberano sobrepujando sempre o horror da traição e seus planos. O último poema, a última estrofe, o derradeiro verso da história humana pertence a Deus e àqueles que estiverem em sintonia com o sangue do Cordeiro.

d. Quando as trombetas arcanas soarem anunciando a consumação do tempo, apregoada pelos livros sagrados, quando a carne ressuscitada passar à glória ou ao castigo eternos, então toda a verdade acerca da história humana será revelada, tantos os sacrifícios, os atos de bondade, quanto as volúpias humanas estarão patentes aos olhos de todos naquele vale de júbilo ou de tristeza.

e. Uns passarão para a dimensão paulina em que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e os sentidos não provaram... outros infelizmente para o choro e ranger de dentes... uma realidade nada agradável e sem fim na companhia  de Lúcifer, seus sequazes nas dores e fogo inextinguível. 

f. Tanto que a fugacidade nos espreita, as paixões nos enleia em sua malha perigosa que deixo anotado estes simples versos na versão de Deus: princípio  e fim de todas as coisas, desejando a pulso e na oração o mundo bom das certezas empíricas para todos os meus irmãos e consulentes deste blogger mínimo.

g.Que Maria Santíssima possa nos conceder este impulso de alma na calma de sua bondade imensa.Abraços de união!E gracias Dios por tantas bendiciones... É no dizer de Santo Agostinho que deixo-os por hora:'... E é tua santidade que nos eleva pelo amor de tua paz, para que levantemos nossos corações para junto de ti, onde teu Espírito paira sobre as águas, e alcancemos o sublime repouso, quando nossa alma tiver atravessado essas águas que são sem substância.'

Helder Tadeu Chaia Alvim





quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O Códice de Agostinho

1. Volto para casa, abasteço o filtro de barro, referência da estância pirineus adorada, e a água faz um barulhinho ininterrupto de goteira, entalho umas palavras, folheio despreocupadamente 'as Confissões' de Santo Agostinho e na profusão maravilhosa de seu pensamento viajo em sua abstração de capítulo em capítulo até o livro décimo terceiro e faço de uns tópicos minha invocação.

2. '... Eis que existo, graças à tua bondade que precedeu tudo o que sou e do que me fizeste. Não tinhas necessidade de mim, eu não sou um bem que te possa ser útil, meu Senhor e meu Deus. Se estou a teu serviço, não é porque a ação te cansa ou porque teu poder, privado de meus serviços, diminua; nem porque meu culto seja para ti o que é a cultura para a terra, que sem ela ficaria estéril. Eu devo te honrar para ser feliz em ti, a quem devo o meu ser, capaz de felicidade.'

3. E o admirável mestre de Hipona continua e continua incansável na busca sublime... O filtro silencia seu cascatear em gotas e sua lembrança me remete a uma era humilde e bondosa do sertão que se perdeu para sempre na curva empoeirada de suas ínvias estradas, e com ele levou na garupa um jeito de ser mais humano e acolhedor, mais de fé e contemplação, e na contramão apareceu o caminhão barulhento movido à diesel e  a paisagem de alegre tornou-se triste.

4. '... Mas seu bem (do espírito) reside em se manter unido a ti, para não perder, afastando-se, a luz que adquiriu com a tua proximidade, tornando a cair em uma vida semelhante a um abismo de trevas. E também nós, que por nossa alma somos criaturas espirituais, nós nos afastamos de ti, nossa luz, nós fomos outrora trevas nesta vida e ainda padecemos por entre os restos de nossas trevas até que nos tornamos tua justiça em teu Filho Único, como as montanhas de Deus, pois somos objetos  de teus juízos, que são profundos como abismos.'

5. Vejo refletida nas explicações do santo de Hipona a situação atual de indecisão e precária em vários sentidos, em que a sociedade de seres pensantes mergulhou em poços artesianos quase sem fim, tudo devido ao afastamento paulatino de Deus e do seu saltério de dez cordas promulgado pelo legislador Moisés no Sinai.

6. ' ... Mas, ó luz da verdade, aproximo de ti meu coração para que ele não me ensine falsidades; dissipa-lhe as trevas e dize-me, eu to suplico por nossa mãe, a caridade, dize-me, por que só depois de ter nomeado o céu, a terra invisível e informe e as trevas sobre o abismo, por que só então é que as escrituras falam de teu espírito?'

7. '... Será porque convinha apresentá-lo assim pairando sobre alguma coisa? E seria isso possível se não mencionasse primeiro sobre o que pairava? De fato, não era sobre o Pai nem sobre o Filho que ele pairava, e seria impróprio falar assim se não pairasse sobre alguma coisa. Era pois, necessário, mencionar primeiro o elemento sobre o qual ele pairava, já que convinha falar dele apenas dizendo que pairava, Mas por que não convinha apresentá-lo senão dizendo que pairava?' 

8. ' Agora quem o puder com a inteligência, siga a teu apostolo, quando ele diz que tua caridade se difundiu em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado, quando nos instrui sobre as coisas espirituais e nos indica o caminho excelso da caridade, e dobra o joelho diante de ti por nossa causa, para que conheçamos a ciência altíssima da caridade de Cristo. E é porque era super eminente desde o princípio que pairava sobre as águas.'

9.' A quem e como falarei de peso da concupiscência que nos arrasta para um abismo profundo, e da caridade que nos eleva, com a ajuda de teu Espírito, que pairava sobre as águas? A quem falar, como falar? Nós submergimos e emergimos, mas não em abismos materiais. A metáfora é  a um tempo correta e muito inexata. São nossas paixões, nossos amores, a impureza de nosso espírito que nos arrasta para baixo sob o peso das preocupações. E é tua santidade que nos eleva pelo amor  de tua paz, para que levantemos nossos corações para junto de ti, onde teu Espírito paira sobre as águas, e alcancemos o sublime repouso, quando nossa alma tiver atravessado essas águas que são sem substância.'

10. Amigo on line, a densidade do pensamento de Santo Agostinho assombra à primeira vista, salta aos olhos a insegurança da caminhada terrena. Sua inquietude nos leva a passear por horizontes novos do espírito. Ele viveu, sentiu e plasmou o mundo ideal na sua confissão, fugaz!

11.Vamos continuar, amigo, se lhe aprouver, enveredando em seus textos sequiosos de mudança interior, pois a existência humana por sua ótica torna-se viável apesar de sublime não acachapa, se inquieta, não incomoda.

12. E é na caridade de um destino maior que mira sua verve fantástica, se sacode é para cair a roupagem do homem velho, se espera tem como base a vida futura, se admoesta é para nos empurrar-nos  para o alto. Sim ele traçou uma ponte segura entre o palpável e o imponderável.

13. Sempre atual, sempre em voga, a filosofia do santo de Hipona acompanha o tempo, digladia com ele a favor da causa espiritual, eterniza anseios e prova que  duas cidades antagonizam-se constantemente entre si numa queda de braço com desdobramentos eternos. Ele fala de cadeira, e ao provar o mundo teve uma indigestão, ao tocar em Deus uma inspiração. Agostinho passado no presente, presente no eterno pensamento do mundo incomensurável das idéias. Veio para ficar, ficou para influenciar as gerações da era do Pater.

Helder Tadeu Chaia Alvim

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Mediações e simbologias de Sarepta

1. Domingo de sol, novembro onze, chuvas no horizonte, olhar vazio, o sino de bronze faz um apelo insistente, a Igreja do Divino um presente. Assumo as indagações, o rumo em prece demorada, ao Espirito Santo recorro respondendo ao convite do amigo, sentinela do outeiro do Frei. E encontro no terço da santa algumas despretensiosas  e fortes respostas que narro a seguir. Eu sei...

2. Ela, a melhor de todas as mães, sempre solícita sabe onde estou e aonde eu possa estar e providencia o melhor para  mim, não trata-se de sucesso financeiro, influências literárias ou coisas do gênero mas a simplicidade para entender o movimento tão contrário ao espírito nos dias que correm , sem saber para o lugar ao certo.

3. O templo me recebe e a todos que nele adentram oferece uma acolhida singela e doce E na calma de suas iluminuras e ícones sagrados propicia um momento de reflexão inigualável. Às dez e meia vem o sacramento, a missa e as rogações, sem lugar para tergiversações, pois a voz interior da graça ilumina todos os corações irmanados na liturgia.

4. O Sol de justiça se imola no altar das rogações, e sem arroubos, apenas um sussurro, ausente dos critérios e cálculos humanos, parece falar: irmãos meus, tende confiança eu venci o mundo! O altar iluminado pelo sírio pascal consome a oração penitencial, o Cordeiro de Deus expia os pecados do mundo, Cristo se imola misticamente, isto é o que importa justamente.Não traz uma inspiração hipotética, irreal, mas de fato 'ex opere operandis'  está ali vivo e atuante.

5. Vem à mente da assembléia dos fiéis a leitura do livro dos Reis,  aquele trecho de Elias a   caminho da costa mediterrânea do Líbano, à cidade de Sidônia chamada Sarepta com suas visões, mediações e simbologias. Ele foge do flagelo da seca, também fora atingido e mais tarde acolhido pela simplicidade da viúva de Saré. O profeta intervém a seu favor e de seus filhos, o pão e o óleo da lâmpada se multiplicam miraculosamente até que a chuva desça copiosa, figura das graças celestiais.

6. A celebração se aproxima do término e aquela conversa com o amigo Jesus me trouxe a convicção de aplacar as tempestades d'alma. A calma e uma alegria triste pairam no ar... O celebrante  implora no altar pela paz na cidade de São Paulo, tão tumultuada nesta guerra desleal tentando implantar o caos 'institucionalizado' do crime organizado quando muitos militares são assassinados em honra  ao dever e a ordem.

7. O povo reunido, faz um silêncio comovido em memória dos valorosos policiais que tombaram no serviço da pátria, e se coloca na condição do cego de Jericó implorando visões, para que o caminho de todos sejam aplainados, a reação da sociedade e autoridades não se arrefeça e a harmonia do bem volte o quanto antes.

8. Saio às ruas, os transeuntes passam contrariando a estática dos que não vão passear no domínio declarado da ilusão, a moça na mercearia compra o pão, o Bira atende no balcão, o Tião aparece e conversamos acerca da construção. Folheio os jornais e noto a notícia que um tal promotor propôs a inusitada ideia de retirar a referência  Deus seja louvado das cédulas... 

9. Observo que as pessoas receosas guardam seu recato, sentam-se à mesa da padaria,  bares e botecos da região, refreiam sua opinião, levantam-se, pagam a conta e lá se vão... Ah! domingo de paisagem linear, ar quente, o tempo absorve o  movimento e continua inquirindo à sina que anima sua sugestão.

10. Aguardando a hora bendita em que o profeta arcano virá para por fim à consternação e trazer para o povo sofrido e apreensivo o verdadeiro pão e o óleo da unção  '... até que o Senhor enviar a chuva sobre a face da terra'.:' Veni Creator Spiritus mentes tuorum visita imple superna gratia quae tu creasti pectora...fonte de luz, verdade e graça plena!'...

Helder Tadeu Chaia Alvim

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

saratória x trincheiras e viseiras capataz iadas...

1. Não minto sinto pura emoção, profissionalismo à parte, lirismo é o que vale. Música suave, acordão de clave, bombas e torpedos para sempre ausentes, as canções e a arte, eternamente presentes. Isso é o que importa, não esperar, nem desesperar, deixar fluir normalmente o momento sem entrave, não trata-se de aptidão, longe a aversão, fale mais alto toda sugestão, isto foi um dia o sarau no Centro Cultural Elenko KWA, rima para cima no nosso coração, um movimento de artistas na cidade de São Paulo na década de 90 que produziu frutos de sintonia linear.

2. O mundo cético dirá: foi o arrazoado de poetas sonhadores,ou a mídia poderá ver como azaração! Vou mais longe ainda dizendo ser o aprendizado da força motriz de versos inversos, escritos sem diretrizes.Sem crises, uma ninfa desencadeou na  mente coletiva a bendita inspiração e de repente surgiram repentes de indignação, isto aconteceu e mereceu consideração.

3. Um momento que aliava arte, contestação e emoção lírica num só lugar às sextas e sábados à noite, que virava a madrugada no palco aberto e muita e muita poesia por certo. A gente dançava um bolero que não era de salão, castanhola sem olé, pois zé, ensaiava um tango, sem sair da razão, valsa ou merengue, salsa, fora do risco em ritmo de baião.

4. Nesta energia noturna do alto nível criativo buscava-se caminhos, queria-se entender conjuntamente os rumos da política mundial sem afrontas pessoais, mas buscava-se a ponta do iceberg, imberbe, solerte. E com sorte encontrava-se o fio da meada e a situação era ligada de forma acertada durante o sarau, nos intervalos e nas reuniões da semana produzindo frutos copiosos de ação lírica na cidade de São Paulo.

5. Vivíamos num fluxo continuo de sintonia e camaradagem, sem lero afirmávamos e negávamos ao mesmo tempo, vendíamos nosso peixe para sobrevivermos espiritualmente, padecíamos ao espairecer: bombas e torpedos: presentes; ausentes no panorama maior as artes e as canções! 

6. O mundo na ocasião tenso, conflitos em países estelares, mísseis a esmo lançados à eito caindo em leito de hospitais, etcetera e tais; ferindo, matando, mutilando; inumana covardia de atletas da dita democracia, anulando a soberania, varrendo civis vidas, inocentes, sofridas, horrorizadas.

7. Com fúria de ventania em Kosovo, como sofríamos a guerra fria, com imbecis idas, vis pontarias, na cadência louca da cavalaria motorizada, desajuízada, apoucada de galhardia, espalharia sangue, morte, restaria só um código nome: hecatombe étnica.

8. Que consumia existências vividas sobre o palco de uma outra pátria, que não era nossa, mas caminhava com algo semelhante ao nosso pensar, dissonante do nosso linguajar só querendo o direito de ir e vir, reconstruir o futuro num presente incerto e ameaçador.

9. Sem querer ver em tudo asneiras, louco para dizê-las, o panorama atual não mudou em nada a ganância, o poder e por pouco quem vai contra não entra pelo cano e com igual sorte, sai pela torneira deste mundo enganador, incapaz, que abandonou o criador e quer ele mesmo com sua astúcia solucionar as crises existenciais que enveredando nas viseiras de trincheiras capataz iadas.

10. Em paz,  termino este simples refrão sobre reminiscências do sarau do kwa ficando o restante perante o pendente para outra solene ocasião.Sem leme penso que o rumo certo está cada vez mais longe distante de nossas mãos, destoando do verdadeiro diapasão, onde as artes e as canções trariam acertadas soluções, sem senões, inverdades, corrupções, enganações, mas esparzidas na tranquilidade e transparência que lhe são peculiares.

11. Como 'o que vai mal no mundo sou eu mesmo', às vezes deixando aflorar egoísmos e presunções,às vezes na omissão passando largo ao semelhante carente de atenção, às vezes olvidando a oração do Pater, esquecendo da Mãe bendita, Maria mãe de Jesus e nossa.

12. E também, enquanto anoto estes traços da antiga alusão poética, muitos tramam conflitos, sabe-se lá Deus em regiões alhures, ao lado na nossa esquina, cidade e nação, torpedos e balas de incompreensões se preparam para outras incursões... E continuam e continuam tecendo uma cortina espessa e intrincada costurando conceitos errados.

13. Enquanto isso vou proseando com vocês, imaginando desta vez nossa história brasileira, parte três, sem final feliz, deixo-o para o dossiê pelicano, julgo perda de encanto, por enquanto no meu pobre canto vou matutando os fatos recentes da nossa política doméstica que amanhã terão outros desdobramentos imprevistos, haja vista o STF e seu sensato juízo.

14. Augurando com o trevo de São Patrício um norte favorável  de ocasiões propícias para a sofrida humanidade, quase sem razão, que perdeu paulatinamente a noção do bem e sua alta estima. Um norte de recomeço, onde valsa, tango, bolero e baião ensaiarão um passo novo, na direção do povo, na dimensão do espaço, no compasso de todos, sem discursos tolos.

15. Onde surjam, onde se formem verdadeiros cidadãos preocupados com o verdadeiro destino sustentável da nave terra, poetas, cancioneiros, de um tempo que será realmente nosso. É o que posso dizer, querendo que aconteça, é o que digo sem poder, acontecendo para valer.

16. A paz sem arranhaduras e composições estranhas, possa estar semeada por toda a parte, em inúmeras direções, equacionada em muitas versões, em inúmeras monções espalhada, lado a lado com todos os irmãos e a sensatez, onde escrevam com glória total, de memória a história ou saratória, parte quatro com final feliz de fato.

Helder Tadeu Chaia Alvim