O
Manto de Bartimeu
1. O
ultimo milagre do Mestre está prestes a
se realizar em Jericó , depois ele e seus discípulos seguirão para Jerusalém,
distante 27 quilômetros, pois se avizinha
a trágica paixão. Ah! Jerico, a
cidade das Palmeiras, das copiosas nascentes, do vale do rio Jordão, a cidade
lugar do retorno dos israelitas comandados por Josué depois da escravidão no
Egito. Quantas recordações e memórias
encerra esta cidade bíblica que viu suas fortes e inexpugnáveis muralhas
serem um dia derrubadas pela força das
orações.
2. Neste
cenário daqui há pouco vai se desenrolar uma das cenas mais belas e expressivas
do evangelho. Os ouvidos do cego Bartimeu estão ouvindo algo que seus olhos não
podem ver. É verdade que Bartimeu era bem informado sobre os feitos do Nazareno
e sabia que o Mestre estava passando
pelo caminho de Jericó, ele sentia a aglomeração de gente, o povo que se empurrava
em torno do Rabi...
3. Ele
conhecia bem aquele caminho, pois enrolado em seu manto quantos dias ,
quantas noites não esteve ali solitário,
amargando a escuridão, precisando das esmolas de outrem, e aquele manto surrado
pelo tempo era seu único abrigo no sol escaldante, nas chuvas copiosas de
janeiro, nas noites frias e quase infinitas das cercanias de Jericó.
4. Na
realidade Bartimeu estava cansado de
viver à margem da sociedade de seu tempo, e soube que Aquele que estava
ali a poucos metros dissera de si mesmo
em uma ocasião que ele era o Caminho,
a Verdade e a Vida, e que viera ao mundo
para dar vida abundante...
5.
O mendigo cego filho de Timeu reuniu suas
forças, encheu seu pulmão de ar e começou a gritar bem alto, e este grito vai
percorrer os séculos na boca de todos aqueles que reconhecerão a exemplo dele suas
próprias deficiências e fraquezas, quer
espirituais, quer materiais: ‘ Filho de
David, tem compaixão de mim!”
6.
E seus conterrâneos o repreendiam para que
se calasse, que parasse de incomodar o Rabi e tirar deles mesmos a satisfação de ouvir e tocar no Nazareno? Mas
Bartimeu não se fazia de rogado, e gritava ainda mais alto: ‘Filho de David tem compaixão de mim!’
7. Bartimeu
não tinha dúvida estava diante do Criador da vida. Jesus parou e disse: chamai-o,
e eles o chamaram dizendo: coragem,
levanta-te Ele te chama! Então o foco da multidão se voltou para
Bartimeu...
8. Ele
mais que depressa se desvencilhou do seu manto e aproximou-se de Jesus. O
Mestre fitou-o com bondade e perguntou-lhe : que queres que eu faça? E Bartimeu disse: Rabonni, que eu veja. E o evangelho narra o momento exato em que o
milagre aconteceu: Vai, tua fé te salvou.
Bartimeu se recupera, enxerga a luz da luz que é Cristo e começa também a
segui-lo...
9.
E os anos passaram, e a cidade de Jerico
palcos de tantas proezas não estava a mesma, numa tarde de outono estival um
forasteiro parou em frente as ruinas de suas muralhas do lado ocidental, e por
incrível que pareça reconheceu algumas palmeiras e sussurrou baixinho: foi bem aqui que o mestre me curou da
cegueira...
10. Era
Bartimeu, ele seguira o Nazareno com fé e amor, dedicação e entusiasmo. Após
ser curado contemplou aquele olhar da cor do céu, renunciou a si mesmo e
pôs a percorrer vestido com um só
túnica, um par de sandálias de Cesaréia
de Felipe, Tiro e Sidônia. Esteve no cenáculo em companhia do 70 discípulos.
11. Aprendeu
com o grande pescador a perdoar, a chorar e a sorrir. Hoje estava de volta à
sua terra natal, palco de tantas alegrias pueris e depois amargos dissabores.
12. Ali viveu
na companhia de seu pai Timeu uma
infância tranquila e abastada até que vieram os elmos romanos e a pretexto de
acusar o general Timeu de sedição contra
o império romano o desterraram e o
mataram impiedosamente.
13.
A ele Bartimeu infringiram a punição de arrancar-lhe
os olhos, e foi quando sozinho e triste se pôs a mendigar e perambular por
aquela estradas de Jerico. Encontrou a redenção e a visão pelas mãos do
Cordeiro aquele que o Batista preconizara às margens do lendário Jordão: O Cordeiro de Deus que viera tirar os
pecados do mundo.
14.
Mas muito aconteceu... e agora restava-lhe o
hálito fresco da fé e muitas regiões a percorrer pela frente, muitas andanças
apostólicas. E sorriu naquele mesmo lugar que outrora chorou, e como que gritou
ali: ‘- Mestre que queres que eu faça?
Uma voz interior parecia lhe dizer: - Bartimeu,
vá pregar o meu Evangelho de Luz a toda
a criatura, quem crer e for batizado será será salvo...
15. Esta
é a história verídica de um homem que não se acomodara em sua situação de
extrema necessidade física e moral, mas ao ter conhecimento da existência de
Jesus Cristo conseguiu alimar sua fé, aquecer sua esperança e solicitar dele a
caridade, o milagre da visão pois ele tinha ânsia de outro panorama e queria
palmilhar o caminho junto com o melhor de todos os amigos: o messias esperado,
o anjo do grande conselho, o Deus humanado.
16. Então
olhou a cidade pela ultima vez, calçou as sandálias, ajeitou a túnica
inconsútil com a sua cinta larga, ajeitou o kouffich na cabeça, jogou o manto,
e se muniu do cajado e começou a empreender a grande viagem de sua vida rumo ao
inesperado oriente, ia doravante correr atrás das ovelhas e guia-las ao redil
sagrado e seguro da Igreja nascente; queria conhecer Saulo e Barnabé e privar
com eles em Antioquia as maravilhas da graça e eleição. Iria contar para todo mundo que um dia Jeshuá o
chamou das trevas para a luz benfazeja do evangelho.
17. Ah!
Aquele manto, agora sagrado para ele, carregava um quê de imponderável, um
sinete de liberdade, a liberdade dos
filhos do Cordeiro e muito aconteceu naquele caminho de Jericó. E tudo agora
fazia sentido, aquelas palmeiras, a cidade, as agruras porque passara, a
cegueira, a humilhação, tudo ficara para trás em vista do que vira, em vista da
face do Nazareno, em vista daquele belo gesto de misericórdia de um Deus, em
vista das mãos de Cristo ao tocar sua cegueira e transmuda-la em luz.
18. E
cada minuto, e cada segundo dora em diante seria diferente, agora que tinha a
luz faria bom uso dela e propagaria a semente da boa nova aonde o Espirito
Santo o impulsionasse, atravessaria rios, vales, montanhas, cidades em
companhia dos discípulos do caminho...
Helder Tadeu Chaia
Alvim
Nenhum comentário:
Postar um comentário