segunda-feira, 26 de outubro de 2015

o manto de Bartimeu

  O Manto de Bartimeu
1.       O ultimo milagre do  Mestre está prestes a se realizar em Jericó , depois ele e seus discípulos seguirão para Jerusalém, distante 27 quilômetros, pois se avizinha  a trágica paixão.  Ah! Jerico, a cidade das Palmeiras, das copiosas nascentes, do vale do rio Jordão, a cidade lugar do retorno dos israelitas comandados por Josué depois da escravidão no Egito. Quantas recordações e memórias  encerra esta cidade bíblica que viu suas fortes e inexpugnáveis muralhas serem um dia derrubadas  pela força das orações.
2.       Neste cenário daqui há pouco vai se desenrolar uma das cenas mais belas e expressivas do evangelho. Os ouvidos do cego Bartimeu estão ouvindo algo que seus olhos não podem ver. É verdade que Bartimeu era bem informado sobre os feitos do Nazareno e sabia que  o Mestre estava passando pelo caminho de Jericó, ele sentia a aglomeração de gente, o povo que se empurrava  em torno do Rabi...
3.       Ele conhecia bem aquele caminho, pois enrolado em seu manto quantos dias , quantas  noites não esteve ali solitário, amargando a escuridão, precisando das esmolas de outrem, e aquele manto surrado pelo tempo era seu único abrigo no sol escaldante, nas chuvas copiosas de janeiro, nas noites frias e quase infinitas das cercanias de Jericó.
4.       Na realidade  Bartimeu estava cansado de viver à margem da sociedade de seu tempo, e soube que Aquele que estava ali  a poucos metros dissera de si mesmo em uma ocasião que ele era o Caminho, a Verdade e a Vida, e que  viera ao mundo para dar vida abundante...
5.       O mendigo cego filho de Timeu reuniu suas forças, encheu seu pulmão de ar e começou a gritar bem alto, e este grito vai percorrer os séculos na boca de todos aqueles que reconhecerão a exemplo dele suas próprias  deficiências e fraquezas, quer espirituais, quer materiais: ‘ Filho de David, tem compaixão de mim!”
6.       E seus conterrâneos o repreendiam para que se calasse, que parasse de incomodar o Rabi e tirar deles mesmos  a satisfação de ouvir e tocar no Nazareno? Mas Bartimeu não se fazia de rogado, e gritava ainda mais alto: ‘Filho de David tem compaixão de mim!’
7.       Bartimeu não tinha dúvida estava diante do Criador da vida. Jesus parou e disse:  chamai-o, e eles o chamaram dizendo: coragem, levanta-te Ele te chama! Então o foco da multidão se voltou para Bartimeu...
8.       Ele mais que depressa se desvencilhou do seu manto e aproximou-se de Jesus. O Mestre fitou-o com bondade e perguntou-lhe : que queres que eu faça? E Bartimeu disse: Rabonni, que eu veja. E o evangelho narra o momento exato em que o milagre aconteceu: Vai, tua fé te salvou. Bartimeu se recupera, enxerga a luz da luz que é Cristo e começa também a segui-lo...
9.       E os anos passaram, e a cidade de Jerico palcos de tantas proezas não estava a mesma, numa tarde de outono estival um forasteiro parou em frente as ruinas de suas muralhas do lado ocidental, e por incrível que pareça reconheceu algumas palmeiras e sussurrou baixinho: foi bem aqui que o mestre me curou da cegueira...
10.   Era Bartimeu, ele seguira o Nazareno com fé e amor, dedicação e entusiasmo. Após ser curado contemplou aquele olhar da cor do céu, renunciou a si mesmo e pôs  a percorrer vestido com um só túnica, um par de sandálias  de Cesaréia de Felipe, Tiro e Sidônia. Esteve no cenáculo em companhia do 70 discípulos.
11.   Aprendeu com o grande pescador a perdoar, a chorar e a sorrir. Hoje estava de volta à sua terra natal, palco de tantas alegrias pueris e depois amargos  dissabores.
12.    Ali viveu  na companhia de seu  pai Timeu uma infância tranquila e abastada até que vieram os elmos romanos e a pretexto de acusar o general Timeu  de sedição contra o império romano  o desterraram e o mataram impiedosamente.
13.   A ele  Bartimeu infringiram a punição de arrancar-lhe os olhos, e foi quando sozinho e triste se pôs a mendigar e perambular por aquela estradas de Jerico. Encontrou a redenção e a visão pelas mãos do Cordeiro aquele que o Batista preconizara às margens do lendário Jordão: O Cordeiro de Deus que viera tirar os pecados do mundo.
14.   Mas muito aconteceu... e agora restava-lhe o hálito fresco da fé e muitas regiões a percorrer pela frente, muitas andanças apostólicas. E sorriu naquele mesmo lugar que outrora chorou, e como que gritou ali: ‘- Mestre que queres que eu faça? Uma voz interior parecia lhe dizer: - Bartimeu, vá pregar o  meu Evangelho de Luz a toda a criatura, quem crer e for batizado será será salvo...
15.   Esta é a história verídica de um homem que não se acomodara em sua situação de extrema necessidade física e moral, mas ao ter conhecimento da existência de Jesus Cristo conseguiu alimar sua fé, aquecer sua esperança e solicitar dele a caridade, o milagre da visão pois ele tinha ânsia de outro panorama e queria palmilhar o caminho junto com o melhor de todos os amigos: o messias esperado, o anjo do grande conselho, o Deus humanado.
16.   Então olhou a cidade pela ultima vez, calçou as sandálias, ajeitou a túnica inconsútil com a sua cinta larga, ajeitou o kouffich na cabeça, jogou o manto, e se muniu do cajado e começou a empreender a grande viagem de sua vida rumo ao inesperado oriente, ia doravante correr atrás das ovelhas e guia-las ao redil sagrado e seguro da Igreja nascente; queria conhecer Saulo e Barnabé e privar com eles em Antioquia as maravilhas da graça  e eleição. Iria  contar para todo mundo que um dia Jeshuá o chamou das trevas para a luz benfazeja do evangelho.
17.   Ah! Aquele manto, agora sagrado para ele, carregava um quê de imponderável, um sinete  de liberdade, a liberdade dos filhos do Cordeiro e muito aconteceu naquele caminho de Jericó. E tudo agora fazia sentido, aquelas palmeiras, a cidade, as agruras porque passara, a cegueira, a humilhação, tudo ficara para trás em vista do que vira, em vista da face do Nazareno, em vista daquele belo gesto de misericórdia de um Deus, em vista das mãos de Cristo ao tocar sua cegueira e transmuda-la em luz.
18.   E cada minuto, e cada segundo dora em diante seria diferente, agora que tinha a luz faria bom uso dela e propagaria a semente da boa nova aonde o Espirito Santo o impulsionasse, atravessaria rios, vales, montanhas, cidades em companhia dos discípulos do caminho...

Helder Tadeu Chaia Alvim



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