Farândolas, feixes e talhas...
Haja o que hajar, já dizia Luís de Tânia, de
façanha conhecida em Matumbu, zona da mata, dono de uns litros de terra
naquelas bandas, de poucas palavras, semblante calmo, vivo que nem ele, ninguém
conseguia enrolar aquele bom caboclo, cuidava de seu recado, tinha filhos
criados, mulher prendada, umas aras de café, plantava milho, arroz, feijão, no mais não gostava de
meias palavras.
Contam que um dia de domingo bem cedo enquanto arriava o cavalo baio para ir no povoado fazer sua devoção, causa de que era a festa da padroeira, pois bem na curva do espigão enxergou a poeira levantada, e quando pensou que não apareceu no terreirão uma rural comendo diesel, era o prefeito Benedito de Sá, chegando todo num terno de linho acompanhado de seu cabo eleitoral o tenente Moacyr Cisneiros.
Contam que um dia de domingo bem cedo enquanto arriava o cavalo baio para ir no povoado fazer sua devoção, causa de que era a festa da padroeira, pois bem na curva do espigão enxergou a poeira levantada, e quando pensou que não apareceu no terreirão uma rural comendo diesel, era o prefeito Benedito de Sá, chegando todo num terno de linho acompanhado de seu cabo eleitoral o tenente Moacyr Cisneiros.
E o diálogo travou-se em tom formal e vago pois a
autoridade e o mando do coronel Benéssa, como era conhecido, foi direta: - Dia
seu moço,- Diaa, seu prefeito, e tenente Moassa, a que
devo a honra desta visita? – Há pois vim aqui hoje para conversar com o amigo,
a proposito das eleições, o seu moço sabe que estou me reelegendo para mais um
mandato.
. - Seu coroné sei sim, a disputa tá acirrada, tão
falando na venda do Juca Santana, vamo entrar: Alzira, mulher serve um café
pros moços aqui! – sabe como é, né..., - sei não mas para o prefeito a modi que
se abalar até aqui na serra dos Pirineus é porque o caso ta perigando.
– Seu moço, os tempos mudaram... quantos
votos seu moço me arruma? E a conversa seguiu amena, entre uma caneca de
café e outra o prefeito soltava gostosas baforadas do charuto, já certo que
convenceria o caboclo e toda a família a votar nele, e promessas não faltariam
como sempre...
. – Que me alembre a ultima vez que politico pisou
nestas bandas a Maria fumaça ainda funcionava, bem a umas 10 viradas de lua, haja
o que hajar não tá certo não!
. O prefeito não se fez de rogado, disfarçou um
riso, mudou logo de assunto, e perguntou das plantações, época do semeio certo,
ocupação dos filhos.
. Luiz de Tânia, proseou um pouco, e depois
continuou: - Esse povo aqui coroné vive abandonado, não tem estrada
pavimentada, nem escola, muito menos posto de saúde no Arraial das Neves.
9. Seu moço, não se preocupe vamos providenciar tão
logo eu seja reeleito para mais um mandato, pois sei bem que vocês precisam de
mim.- Mas seu coroné, com todo o respeito, ano passado o Sr. inaugurou uma
ponte que não existia no rio novo horizonte, saiu no Jorná da Estância alto da
serra, meu menino leu pra mim!
.Intrigas da oposição, seu moço,,,- Sei não sô coroné, do jeito que sua conversa tá fazendo curva nem
vamo receber os pé de café que arranquemos! E a RFSS não vai voltar nunca, e o
desmatamento ilegal vai ficar sem punição, ah é?
.– Bom, seu moço a gente... mas
não se avexe não, e eu conto com o amigo! – Na verdade seu coroné eu não conto
com o senhor, mas se descer a serra pelo espigão do norte vai passar na fazenda
Santa Inês, e acho que lá vai encontrar seus eleitores de cabresto, disse Luis de
TÂNIA com uma pontinha de ironia.
.– Passar bem seu moço, senhora Alzira o café tava saboroso... E logo
se viu aperreado para ir embora, e foi o que fez, desta vez preferiu dirigir
ele mesmo, eh eh eh. E lá se foram o prefeito coronel Benedito de SÁ e seu fiel
assessor Tenente Moacyr Cisneiros, por essa não esperavam, um caboclo com a
franqueza à flor da pele, e tudo que tinha dito era verdade!.Atravessaram o mata burros, e logo o espigão estava à sua frente,
reduziu a marcha e desceu a vertiginosa serra dos Pirineus naquele dia de
domingo, aqui e acola uma preá saltitava a beira da mata assombreada pelas
quaresmeiras, juás e angico rosa, lá longe já avistaram a estância Santa Inês,
buzinou, e quando não parou a Rural, e o som se
ouviu: bé né, be né, bé né.
.Pulou logo do carro, tirou o chapéu, e gritou alto, coma vai senhor!
Como vão? Andou um pouco, rodeou de novo o carro e o som continuava chegando:
bé né, bé né, bé né, muito som, e o prefeito imaginou para ele aquela recepção
de seus eleitores.
.Qual foi sua surpresa, que na curva apareceu um bode velho, e atrás
uma malhada de cabras berrando bé, bé, bé , bé bé bé, bé, bé bé, bé.A estória se verídica ou não correu o mundo, provocou
muitas risadas e não rendeu os votos ao prefeito mas esta lenda do sertão queria simbolizar realmente a politica, e toda
a farândola comum naquele tempo não muito diferente do nosso também.
.Pois é, depois de muito chão, lembrei hoje não sei porque da velha politica de antanho, parece um tempo igualinho
ao nosso, se não fosse a era digital, a
cidade de luz néon, diria que a arte de governar é a merma, só mudou de
personagens.
Que saudades que tenho de meu sertão iluminado por figuras como Luiz
de Tânia, Torquato Dias, Fortunato Alvim,d.Alzira e tantos outros e outras, gente simples,
mulheres valorosas, caboclos fortes, que ninguém conseguia enrolar.
.O tempo deles passou, o do prefeito Bené também, o sertão se desfez,
o sonho de eldorado na cidade grande abduziu aquela gente, suas origens humildes
foram esquecidas, o fogão a lenha, a prosa amena, mas algo do espirito deles continuou contagiando a
nossa época, e com a nostalgia veio a certeza que muitos mantém até hoje a
clareza, a simplicidade e vivacidade do caboclo Luis De Tânia, e outros e
outras herdaram a sutileza escusa de Bendito de Sá, o coronel e prefeito de
Roseiral do Norte.
.Eh amigas(os) que repartem comigo sonhos de mundo bom, vinha dizendo
que algo permaneceu na atmosfera do Brasil, que a gente sente e não sabe
definir ao certo, acho que o povo conserva ainda um frescor daquelas matas, os
desejos de coisas certas, um anseio de bem querença e a politica pelo contrário escreve sua
historia a revelia do bem comum, elege gente não afeita a democracia, e em
determinado momento deu no que deu, uma sucia organizada para depenar o erário
publico em proveito próprio.
20.Mas ‘haja o que hajar’acreditamos
no Brasil, nesta gente que canta, geme,
sofre, reza, sonha com um pais melhor, mais pujante, democrático, solidário,
justo e alvissareiro, a à moda do caboclo Luis de Tânia possa juntos realizar
ponto por ponto os sonhos latentes de pátria, livre, cívica e auto determinada
em ser uma pátria de eleição para todos os seus mais de duzentos e sete milhões
de filhas e filhos amados.
Chaia Alvim Helder.
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