quinta-feira, 23 de julho de 2015

visões de Mágdala

       
          Sob o signo de Mágdala

1.       ‘... Tiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o colocaram!’, assim se expressou uma mulher naquela manhã clara, sua voz rouca carregava tons de uma intuição pavorosa... Os acontecimentos anteriores a que fora palco Hierosolyma  ainda estavam vivos e indeléveis em sua memória, os sentimentos de piedade, amor incondicional  ainda perdurara em seu espirito irrequieto e místico.

2.       Ah! o Messias , esperado pelo seu povo , aquele que reconduziria  Israel à gloria do reino de Salomão, aquele que viera unir a lei de Moisés a um novo tempo  através da graça e verdade não se encontrava ali. Ah o adorado Mestre que dissera tantas coisas belas, que se impusera aos escribas e fariseus, que peitara o império romano, que reunira tanta gente ávida de ensinamentos se fora de uma maneira trágica .... 

3.       Aparentemente  tudo indicava um grande fiasco a trajetória do Nazareno, reunira uns iletrados pescadores, homens simples do povo galileu, algumas mulheres corajosas, e com eles todos  sonhou um sonho de liberdade e paz... com eles contemplou os lírios do campo, a figueira estéril, ensinou-lhes a rezar, a perdoar, a amar o semelhante, a desejar o reino do outro mundo.

> E em pensar que um tempo depois Magdala, e os  seguidores do caminho, cantariam com ele um cântico novo, deixariam tudo e se poriam resolutamente em demanda do mundo bom, aspirando o reino celeste, aquele que nem as traças e os ladrões abocanham para si. 

4.       A primeira Igreja nascente estava em polvorosa naquela manhã, a medir pelo desespero de Maria de Mágdala, pelo aviltamento dos discípulos nada mais restara a eles senão chorar e embalsamar o corpo do então adorado mestre Jesus, e com o desaparecimento do corpo nem isso teriam direito.

5.       E ela, Maria de Magadan viera de tão longe, deixara sua terra natal a leste de Yarmuk , próximo a Gadara  para seguir o Mestre, percorrer com ele toda a extensão da Palestina, presenciar seus milagres estrondosos, a ressurreição de seu irmão Lazaro, as queixas de sua irmã Marta em Cafarnaum,  o unguento que derramara nos pés do Senhor...

6.       Então tudo acabara? Somente restara uma cruz vazia no Gólgota, e muitas lembranças tristes, e outras  alegres, a entrada triunfal no domingo de ramos em Jerusalém ainda estava fresca em sua memória, o hosanna  dos meninos dos hebreus, os ramos de oliveiras baloiçando, antes assistira a transformação da água em vinho nas bodas de Caná da Galileia... a cura dos cego de nascença em Jericó, a façanha de Zaqueu, a pesca milagrosa, e tantos e tantos outros prodígios...

7.       Ela assentou embaixo de uma oliveira frondosa, recostou a cabeça em uma pedra, se cobriu com um manto escarlate e chorou, chorou copiosamente um pranto de dor e amor puro... Mas a medida que o tempo escoava, o silencio apertava a emoção e aqueles benditos minutos lhe parecia uma eternidade...

8.       Não contente com a dúvida se levantou e prontamente foi de novo olhar o tumulo para averiguar a possibilidade do Rabonni  estar lá... A cena que vamos narrar foi entrecortada de mistério, um vento suave soprou no rosto daquela mulher santa e as folhas dos sicômoros fizeram uma sinfonia de cores e luzes diáfanas...

9.  As sombras do medo estavam prestes a dar lugar a um outro momento, ela se aproximou devagarzinho, seus pés não pareciam tocar aquele chão rude, e seu pensamento de fé a visitou, seu ser estava totalmente em êxtase, prenuncio do milagre que estava prestes a acontecer em sua vida e que mudaria séculos a fora a história da humanidade até o cair da ultima folha verde na consumação dos séculos.

10.   Era o primeiro dia da semana e os raios de sol surgiram por trás das montanhas da cidade deicida, daquela cidade que não recebera o Messias, que mesmo colaborara para sua ignominiosa crucifixão, a pedra do túmulo havia sido retirada, e as lágrimas incontidas desciam de sua face ruborizada e banhava as pedras como a indagar porque?

11.   Então num assomo de ousadia ela inclinou-se e olhou para dentro do tumulo e viu dois anjos vestidos de branco onde tinha sido posto o corpo de Jesus,, um à cabeceira e outro aos pés. Os arcanos perguntaram: ‘ – Mulher, porque choras? A quem procuras? Pensado se tratar de jardineiros ela indaga: - Se vocês o levaram me digam onde está para eu ir buscar!

12.   Então o véu do mistério naquele momento se dissipa com a voz do Mestre: - Maria! Ela num assomo  de alegria  e esperança exclamou: Rabonni! – Maria, olha eu ressuscitei e irei subir para junto de meu pai, era verdade, sim é verdade que sou o caminho e a vida e vim para afugentar as trevas deste mundo, instituir pelas mãos do Grande Pescador  a minha Igreja e tereis paz e a vida eterna no seio de Abrãao, vá dizer isto aos meus irmãos!

13.   De pronto Maria Madalena se levantou e como que voou ao cenáculo a anunciar a boa nova, em lá chegando simplesmente com voz embargada de emoção, fé, amor balbuciou: ‘ – Eu vi o Senhor!   

14. Aqui termina a historia de uma mulher forte, corajosa, destemida, de carácter místico, e sobretudo de uma candura de alma impressionante que viveu nos primórdios do Cristianismo e devotara toda a sua vida e posses à visão do Salvador com todas as suas consequências animico empiricas. Viveu num tempo atípico  de escravidão, de erros sob o jugo da pesada bota romana. Mesmo assim teve a ombridade de ver e acreditar no Deus humanado. e dedicar a ele sua vida, emoções e apostolado.

15.Melhor dizendo foi o começo de tudo, e lançadas as raizes do mundo bom hoje recordamos e escrevemos alguns traços acerca de Maria de Mágdala, santa dos altares e uma das jóias raras da Igreja católica, aquela nascida da lança do Longino e de um túmulo vazio.  Sim valeu a pena, estava traçado em linhas maiores o  destino de Santa Maria Madalena, da Igreja nascente e a trajetória de luz de todos os homens... que atraídos pela beleza divina do Cordeiro iriam redesenhar a historia à partir de um  tumulo vazio, pois o Mestre ressuscitara Aleluia!

16. Ao refazer o caminho de volta para Magadan ela recordou de tanta coisa que mudou em sua vida, hoje uma sublimação acompanhava seus passos ao pisar novamente no mar de Tiberíades, sorriu um riso solto e pensou, - ah foi aqui na barca de Pedro que o Rabonni amainou a tempestade...  quanta significação Maria de Magdala carregava consigo e decidiu naquela tarde de primavera sair também de sua terra e dirigir-se para as Gálias, pois o mestre não dissera palavras de vida eterna? 

17. E que coisa melhor que doravante testemunhar os mistérios do crucificado para outros povos, e dizer que vale à pena viver em consonância com o evangelho do amor, da misericórdia, perdão e paz sem limites.

18. Os primeiros raios de sol prateavam o mar de Tiberíades quando três irmãos apareceram, de repente, vinham de Magadan, ou melhor deixavam para sempre sua aldeia natal, seus atelieres de tintura, seus rebanhos de carneiros, sua casa de varanda alta. Olharam para trás como a dizer para aquelas colinas, testemunhas oculares de tantas maravilhas, e objeto de contemplação do Nazareno, a dizer palavras não traduzidas em nosso pobre linguajar...

19. E depois de uns instantes de êxtase seguiram seu caminho rumo ao desconhecido e sabedores de um destino agora iluminado pelo Sol de Justiça, que amanhã seria coroado de êxitos e mais êxitos do espirito, paragem segura onde as traças e os ladrões nunca alcançariam com suas mãos e dentes afiados.

20. Maria de Magdala, de carácter contemplativo estava radiante, vira o Cristo ressuscitado em primeiro, anunciara aos discípulos o estupendo milagre, também Marta, a solícita Marta, prestativa não ficava atrás, e por último Saint Lazar, o amigo de Jesus, que recebera a graça da vida devolvida...Juntos agora, guiados pelo Paráclito estavam prestes a deixar  a Terra Santa para pregar o evangelho em outras paragens.

21. Ainda o som da voz de Jeshuá era-lhes familiar: ' Si quis venire pos me, abneget semetipsum, tollat crucem meam e sequatur me. ' Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, toma a sua cruz e siga-me... e tereis o cêntuplo e a vida eterna!



Santa Maria Madalena das certezas empíricas - rogai por nós!

Helder Tadeu Chaia Alvim



Nenhum comentário:

O cacarecado x ativismo do senso comum

  O cacarecado x ativismo do senso comum O momento estonado traz um viés de tudo ou nada, uma espécie de negação das verdades absolutas em p...