quarta-feira, 19 de setembro de 2012

tive sede e não me destes de beber...

1. A figura de Cristo impressiona e é de atualíssimo conhecimento, estudo, investigação por parte dos cientistas, catedráticos, lentes no mundo inteiro. Nem todos tem a mesma visão certa de quem foi o Jesus de Nazaré, mas querem falar dele, de suas obras e de sua missão. Porque dá prestígio, porque foi um homem que amealhando doze pescadores iletrados conquistou o mundo ou porque definiu a paz como reflexo da sua divindade. Ou porque desafiou o poder dos césares, enfrentou com argumentos convincentes os sumos sacerdotes, escribas e doutores da lei.

2. Ao mesmo tempo que se admiram deste homem providencial, negam a que ele veio e sua natureza divina. Aventam teorias, provocam cismas, enlouquecem a si e os outros que se detém para ouvi-los e dão crédito cientifico à suas digressões reflexivo-especulativas. O Cristo sempre foi objeto de elucubrações, uns o querem sem espinhos, outros o revolucionário, político, apartado da sua Igreja, ou disforme em sua imagem verdadeira e consubstancial ao Pai.

3. É o caso recente da notícia veículada acerca de um suposto manuscrito sobre  ' a esposa de Jesus' que de cara vai contra todo o ensinamento apostólico do celibato e da missão de um Deus Humanado. Vai contra a doutrina do Evangelho e todas as deduções e vivência ao longo de mais de dois mil anos da Igreja Católica. Vai contra todas as circunstâncias primeiras do plano da  redenção desde a anunciação do anjo Gabriel à Virgem Maria e o fato que a sua virgindade seria preservada ao dar à luz ao unigênito de Deus.

4. Vai contra a trajetória daquele que passou a vida fazendo o bem, realizou milagres, carregou uma pesada cruz, recebeu uma chaga profunda e dolorosa em seu ombro, foi pregado, derramou todo o seu sangue sacrossanto e redimiu o genero humano, ressuscitou, ascendeu aos céus e virá julgar os vivos e os mortos, conforme as escrituras sagradas.

5. Estamos falando da figura, não de um grande profeta, mas do próprio Deus, a segunda pessoa da Santíssima Trindade e que por mais legítimo que seja o conúbio, ele não precisou provar do matrimônio, uma vez que ele próprio criou as leis da reprodução e está acima delas. Esta especulação absurda da Senhora Karen King e seu papiro apócrifo não tem consistência nenhuma com a verdade histórico - patrística, seria a mesma coisa que eu pegar a bíblia  e tentar provar por um versículo isolado que 'Deus não existe', sem ler o complemento: 'diz o insensato no seu coração'.

6. O matrimônio é um sacramento e como tal é cercado de todo o cerimonial pela Igreja, requer indissolubilidade e fidelidade, e o sexo entra numa perspectiva transcendental de gerar almas para povoar os lugares vazios deixado  pelos anjos decaídos quando de sua expulsão do céu pelo arcanjo Miguel. O gôzo carnal que ele traz é uma forma dos consortes colaborarem com 'crescei-vos e multiplicai-vos...'

7. Agora inferir de um simples fragmento apócrifo, uma versão contrária a ordem perfeita estabelecida pelo criador, no mínimo foge a realidade dos fatos e torna-se uma inverdade histórica. O que é é e não é um papiro em língua copta que vai mudar a verdade da pureza de Cristo, a sua santidade, celibato, a sua abnegação, e sua perfeição divina e humana. 

8.  Ora, um olhar atento sobre os quatro  evangelhos, escritos sob a inspiração do Espírito Santo e fundamentado na tradição que remonta aos apóstolos, embasa a tese correta e a pureza das intenções de Deus: uma virgem concebeu  e deu a luz a um filho e não conheceu varão permanecendo virgem por obra do mesmo espírito e por conseguinte seu filho Deus que encarnou em seu seio ilibado estaria longe de fugir à regra. Ele veio para realizar a grande obra da redenção e suas ações tinham conta, peso e medida.

9.  Agora inferir que ele tivesse tido 'espôsa', é um absurdo que raia à loucura. O cântico dos cânticos refere-se as esposas no sentido místico, como a Igreja é a esposa mística de Cristo e as mulheres consagradas a Deus o são por extensão. Nas bodas de Caná, quando Jesus opera seu primeiro milagre a pedido de sua mãe, ele se utiliza do termo 'mulher' que os exegetas falam ser um tratamento carinhoso, que poderia ser por exemplo: 'minha senhora'.

10. A castidade e o celibato são duas flores cultivadas na Igreja Católica, e de rara beleza  às  almas consagradas a Deus e são uma das reservas mais preciosas ao coração de Jesus, bem aventurados os puros e limpos de coração porque verão a Deus, de uma maneira que eternamente assistirão ao trono do cordeiro cantando um cântico novo.

11. A mídia, no afã de novidades e sensacionalismo focou a notícia do fragmento copta e quase não deu margens para as réplicas, para os argumentos que provam a verdade histórica de Jesus de Nazaré e sua missão única e salvífica.E se hoje com os recursos gráficos de alta definição este fragmento não ter sido alterado? Mas não, prefere dar ouvidos às fábulas e não é de hoje que publica notícias a respeito de Cristo, com as distorções, as maiores que a imaginação já teceu sobre algum personagem  importante da história. Com um detalhe: Estão falando mal do Proprio Deus: 'o caminho, a verdade e a vida.'

12. Se cantamos, ela não dança, se lamentamos ela não chora, se escrevemos ela não lê, e de hipóteses em hipoteses vai divertindo os incautos, alimentando os céticos e cavando seu próprio buraco. Quão longe dista da caridade a que se refere o apóstolo dos gentios:'...não se alegra com a injustiça, mas rejubila-se com a verdade...'  Cristo bem poderá no seu Juízo Final repetir-lhe: '... Porém, tive sede e não me destes de beber...

13. Querem saber toda a verdade acerca de Jesus Cristo; a fonte donde emana a sustância está no evangelho de São João Evangelista, o discípulo amado e casto que conviveu com Nossa Senhora em Éfeso e  sorveu dela  gôta por gôta o néctar da divindade de Cristo e soube resumi-la brilhantemente:

14. 'No princípio era o Verbo e o verbo era Deus. Ele estava no princípio junto de Deus.Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito.Nele havia vida, e a vida era luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.

15. Houve um homem, enviado por Deus, que se chamava João. Este veio como testemunha para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele. Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz.

16. O verbo era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem. Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu e os seus não o receberam.

17. Mas a todos aqueles que o receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus.

18. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sus glória, a glória que o filho único recebe de seu Pai, cheio de graça e verdade'.

19. Aí está a definição apropriada, toda a verdade sobre Jesus Cristo, relatada por um apóstolo, que jovem ainda seguira o Mestre bem de perto e vai viver muito, cuidar da Mãe de Cristo, passar dos noventa anos, administrar com zelo e amor a Igreja na Ásia Menor  e encerrar sua trajetória terrena em Éfeso escrevendo um dos livros mais preciosos da história: O Apocalipse.

20. A realidade de um Deus humanado está presente em João, a rejeição por parte de muitos, patente. Não há como negar a dimensão incomensurável de sua bondade, misericordia e justiça, seus planos, ações e intenções de salvação e elevação para o gênero humano.

21. Não há como negar os tropeços de muitos, a não compreensão exata da pedra de contradição, amada ao extremo por muitos, rejeitada pelas mentes atéias, céticas, contrariadas em sua paixões, equivocadas em suas crises existenciais ao longo da história.

22. Mas a   luz diáfana de Cristo vai brilhar sempre acalentando seus amigos, afugentando as trevas do caminho e atraindo a si todas as coisas, e os séculos vindouros no acalanto de suas monções, quando a sua sede de justiça será saciada pelo tempo soberano.

23. Se torna mister encerrar e quem melhor do que Santo Agostinho, a quem convido para discursar em meu lugar para o publico que considero mentor.

24'...O tempo não corre debalde, nem para inutilmente sobre nossos sentidos, ainda causa na alma efeitos maravilhosos... voltai pecadores, ao coração, e ligai-vos àquele que é vosso criador. Firmai-vos nele, e estareis descansados. Para onde ides por esses ásperos caminhos? Para onde ides? O bem que amais dele procede, mas só é bom e suave quando se dirige a ele, porém será justamente amargo se, abandonando a Deus, amardes injustamente o que dele procede.

25. Porque continuais por caminhos difíceis e trabalhosos. O descanso não está onde buscais, buscais a vida feliz na região das trevas, não está lá. Como achar a vida bem aventurada onde nem sequer há vida?

26. Ele, nossa vida real veio até nós , sofreu nossa morte, e a suplantou com a abundância de sua vida; com voz de trovão clamou para que voltássemos a ele, para o lugar escondido de onde veio até nós, passando primeiro pelo seio de uma virgem, onde se desposou com ele a natureza humana, carne mortal para não ficar sempre mortal.

27. Dali, como o esposo que sai do tálamo, deu saltos como um gigante, para correr seu caminho. E não se deteve; correu clamando com suas palavras, com suas obras, com sua própria morte, com sua vida, com sua descida aos inferos e com sua ascensão, clamando para que voltássemos a ele.

28. Se ele se afastou de nossa vida, foi para que entremos em nosso coração e ali o encontremos; se partiu, ainda está conosco, não quis ficar muito tempo entre nós, mas não nos abandonou. Retirou-se de onde nunca se afastou, pois o mundo foi criado por ele, e no mundo estava e ao mundo veio para salvar os pecadores.

29... Dizei-lhes isto, minha alma para que chorem neste vale de lágrimas, e assim os arrebates contigo para Deus, pois ao dizer estas palavras ardendo em chamas de caridade, é o espírito divino que te inspira.

30.E mais, querem amigos conhecer um poeta verdadeiro que conhecia o tempo de Deus, e mais que um poeta um portento de santidade, um gênio de perenidade? O filho ilustre de África, que amamos! Olha o que ele disse em caracteres indeléveis bebendo na fonte cristalina do mestre Jesus:

31. '... Tarde te amei, oh! Beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei, trinta anos estive longe de Deus, mas durante este tempo algo se movia dentro do meu coração. Eu era inquieto, alguém que buscava a felicidade, buscava algo que não achava.Mas Tu te compadeceste de mim e tudo mudou porque Tu me deixaste conhecer-Te Entrei no meu íntimo sob a Tua guia e o consegui porque Tu Te fizeste meu auxílio.' 

32.'... Exalaste teu perfume e respirei. Agora suspiro por ti, anseio por ti, Deus, de quem separar-se é morrer, de que aproximar-se é ressuscitar, com quem habitar é viver, de quem fugir é cair, a quem voltar-se é levantar, em quem apoiar-se é estar seguro. Deus a quem esquecer é perecer, a quem buscar é renascer, a quem conhecer é possuir.'

33.'... Tarde te amei! Tarde te amei, oh! beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei! Eis que estavas dentro e eu fora. E fora te buscavas e lançava-me, disforme e nada belo, ante a beleza de tudo e de todos que criaste. Estavas comigo e não eu contigo.'

34.'...Seguravam-me longe de ti as coisas que não existiriam senão em ti. Chamaste, clamaste por mim e rompeste minha surdez. Brilhaste, resplandeceste e tua luz afugentou minha cegueira.'

35.'... Exalaste teu perfume  e respirando-o, suspirei por ti,te desejei, eu te provei, te saboreei, e agora tenho fome e sede de ti. Tocaste-me e agora estou ardendo em desejos por tua paz.'

35. '... Ó Deus, faz que eu te conheça, meu conhecedor, que eu te conheça como de ti sou conhecido.Virtude de minha alma, penetra-a, assemelha-a a ti, para que a tenhas e possuas sem mancha, nem ruga...'

36.'...Esta é a esperança com que falo, e nesta esperança me alegro, quando gozo de sã alegria. Tudo o mais desta vida, tanto menos se há chorar, quanto mais o choramos, e tanto mais teríamos que chorar quanto menos o choramos.'

37.'... Mas tu amaste a verdade, porque quem a pratica alcança a paz. Eu desejo praticá-la em meu coração, diante de ti por esta minha confissão e diante de muitas testemunhas por meus escritos.' (Confissões de Santo Agostinho).
Helder Tadeu Chaia Alvim

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