sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Um não sei o que...

um não sei o que...
1. Vou comentar a difícil tarefa de uma das profissões mais antigas da humanidade, aquela que já teve um pé na helênica pátria, conheceu gregos e fenícios bem lá no início de sua jornada... aquela que se equilibrou entre o concreto e abstrato, conheceu as revoluções, o caminhar dos séculos até os dias de hoje.

2. Você não escolhe, já nasce com o pendor de ser poeta, não se trata de honraria, acho uma sina que o acompanha, não o separa dos demais mortais, acrescenta na sua cabeça a inspiração. Ele é empossado através de uma espécie de aclamação dos amigos , olham para você e dizem: poeta - e se o apelido pega você tem que se desdobrar, suar a casaca - se faz uso dela, para apresentar serviço.

3. O poeta não especula, vive entre os umbrais, para si sagrados, dos sonhos e realidade. De olhos abertos, despertos abre a mente para a inspiração e quando esta bate deixa-se envolver por ela e os seus doces amplexos inteiramente, calmamente, embriagado  de idéias dá vazão à fluência de sentimentos.

4. Não vá procurar a lógica quando concatena-se aos versos, difere-se dos numerólogos, sua analogias não trazem um quê de visionário. Ele trabalha com o universo visível a medida que serve de trampolim para as abstrações.

5. Quando a vida seca  a seiva da leveza e calor humano, pode estar certo que haverá em algum canto um poeta, aparentemente taciturno, olhando o infinito para trazer à tona o incomensurável e oferecer gratuitamente ao irmão, e com um bom gesto de união, introduzi-lo à audiência das rimas e canções.

6. - Nossa, que vida tranquila essa hein! Flanar ao vento, olhar o firmamento e deixar a caneta deslizar no papel a contento, quero-a  para mim também!

7. - Antes fora, antes fora. Não é uma constante este movimento, tem cachoeiras, noites de trevas, incertezads pelo caminho até soar aos seus ouvidos a voz interior, o sentido que queria.

8. No exercício de alhear-se do mundo externo é que mora o segredo de seu versejar prazeroso, para atingir o ponto serão várias camadas de indefinições interpostas a ultrapassar.

9. O poeta bom não necessita dominar a técnica, mas deixar fluir o seu pendor nato sem aliciar a linguagem, e esperar a inspiração que as divas lhe incutirão, mesmo que para isso fique horas e horas na espreita para celebrar o grande encontro.

10. Depois da posse almejada é a hora de dosar as palavras, burilar a pedra bruta das letras ao gosto pensado, então poderá dizer que surgiu a miragem dos sonhos em versos. Tudo junto chama-se poesia, pronta para ser franqueada  aos irmãos, lançada ao vento da indefinição.


11. E na especialidade de rimar, teorizar sonhos, buscar as palavras, cortejá-la sem intenções ocultas e encaminhá-la ao páteo do lirismo. Então, quando interagidas, divertidas, de investidas boas tornam-se temáticas, ou enigmáticas.

12. Se são livres, avessas ao parnaso, tanto melhor, pois abraçam as dores alheias, fazem seus anseios esparsos, alegram-se com as atitudes serenas do semelhante, aquelas que viabilizam o mundo bom. E neste tom vislumbram a ante camara do ideal da existência para si e outrem, para o conjunto de todos os homens da face da terra.

13. Nem tudo são flores, quando aparecem os espinhos dos desmandos da contemporaneidade, as cores, outrora vivas, esmaecidas do tempo que insiste em desacreditar tudo e todos numa vingança atroz e continuada. Nada escapa da visão deste ser que chamamos carinhosamente de poeta.

14. Deste ser que não compete, não fere, não mata, apenas aborrece o consumismo, e tenta oferecer nas palavras um sentido agradável de ser, que espelhe o  artífice da Grande Arte, que plantou na alma humana desejos, emoções, um não sei o que de metafísica, um não sei o que de empirismo, um não sei o que de misticismo, um não sei o que de arrebatamento, um não sei o que de tudo e nada ao mesmo tempo.

15. - Que texto mais sem viés, nulo de vinco ou arrimo preciso! - Não necessariamente ele é fruto do meio, mas sofre influências das emboladas de seu tempo, no caso o nosso tempo de informações as mais variadas e esdrúxas possíveis.

16.Depois do goliquinho, será a matéria a seguir  enfocando a tese afetiva da topofilia de Yi Fu Tuan - professor emérito da Universidade de Wisconsin em Madison (EUA) e com vários livros publicados sobre o assunto.

17. Quer conhecer deveras um poeta, quem sabe se ele não se encontra escondido dentro de você mesmo, escreva um poema ou leia, sua alma está ali e depois decida se vale a pena sonhar... ou se o sonho é aqui e a realidade está lá.

Helder Tadeu  Chaia Alvim

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