quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O carnaval barnabé x o conchavador de pé...

1. A cada carnaval que transcorre o Brasil envelhece, saciado pelo prazer destes dias fugazes, algo morre na alma do brasileiro, o brilho da passarela é uma cor aparente, seus braços se agitam febricitantes, a cabeça torna-se leve e fica dissonante de seu interior.

2. Pula por pular, vai atrás da propaganda e se não dá as caras por lá parece que não viveu, como se o mundo fôsse findar na quarta feira de cinzas, ele que quase se acaba de tanto beber e pular.

3. Vão dizer, é óbvio, que sou ave do mal agouro, estraga prazer e sei lá o que. Já que disseram mesmo, digo que o carnaval brasileiro assemelha-se aos últimos dias de Roma decadente na perífrase de seus desejos de pão e circo.

4. O carnaval em São Paulo, a meu ver, terminou indefinido, com a confusão de um desavisado ao rasgar as notas dos jurados, a posssível quebra de acordo do não rebaixamento das escolas de samba.

5. Torcida organizada nos estádios de futebol já é  motivo de sobra de preocupação para a sociedade, que dirá imiscuida em carnaval, aí que o bicho morde e o desfecho foi vergonhoso para a maior metrópole sul americana, que deveria continuar confeccionando seu sapato - e fá-lo muito bem - e não querer equiparar-se ao Rio de Janeiro - que vive do carnaval o ano inteiro, já morei lá e sei como é que é.

6. Tem gente que quer se divertir no carnaval, pular, sambar e deixar a vida passar, sonhando com o tema das marchinhas de antigamente. Agora quando as escolas de samba embrenham pelos famosos quesitos, tudo fica diferente e esquisito, o carnaval barnabé fica na saudade nostálgica de quem já o pulou; o carnaval conchavador se tecnicaliza numa espécie de que 'o que não é fanta é uva'.

7. O carnaval transformou-se em um mando do particípio industrializado em moldes de passarela, glamour, técnica, neon, balões, cores, passos, ritmos, cadências. O samba dando o máximo de si numa perfeição que foge aos parâmetros do bom senso humano. E o gerundio que poderia ser compartilhado empurra para longe a pegada atonal.

8. E no paroxismo da alegoria sonha atingir no pé um grau que destoa dos 365 dias do brasileiro das ruas e o carnaval se aproxima do poder, da política da sindrome do eterno peter pan à brasileira, carregando trocentos quilos de maquiagem numa passagem à pé enxuto pelo imenso mar de confetes e serpentinas da sapucaí ou anhembi.

9. Talvez, seja para fugir da realidade da quarta de cinzas, talvez seja para não encarar a consciência, talvez seja para exprimir seu descontentamento com a política e seus desmandos, talvez seja para aparecer na telinha da Globo e ficar famoso pelos míseros- eternos 40 minutos. Talvez seja tudo isto junto, ou nada disto separado.

10. Ou quem sabe, a sede de liberar emoções tolhidas pela realidade atual brasileira de violência, carência de tudo público, falência das instituições, eloquência na política pública e a não sintonia de seu fazer ao brasileiro comum e inteligente que locupletam as ruas, cidades e sertões.

11. Não vamos culpar o carnaval de nada, ele apenas anestesia a moçada, apresenta na sua evolução a tendência de uma direção elaborada. Tornou-se uma universidade livre da técnica voltada ao samba da tecnologia à serviço do pé e mais nada! Não há como negar no entanto os enredos felizes que aparecem e enternecem nosso coração, o sertão presente na passarela, o Brasil brasileiro retratado ponto a ponto muitas vezes dá o que pensar...

12.Já tem escola se preparando para 2013... Espero que da lição aprendida este ano em SP deixem de misturar samba e futebol. Ambos 'estão no pé', cada um no seu ritmo, pois zé. ' As duas paixões nacionais', vidrando as cabeças, girando o esqueleto em evoluções de admirar.

13. Se me perguntassem sobre a impressão destes dias de euforia, eu diria, do pouco que acompanhei pela televisão, a que eu gostei mesmo foi da X 9 Paulistana em trazer o sertão para a passarela e demonstrar que existe vida fora do futebol, que existe brasilidade nos locais em que o Rally atravessa, e que esta pequenina amostra na passarela do Anhembi, já foi o suficiente para a gente se orgulhar de um Brasil que ainda está por descobrir, que contrasta com as baixarias do momento presente.

14. E quanto foi merecida a premiação de campeã no RJ: Unidos da Tijuca, homenageando Luiz Gonzaga, o que prova que nosso povo tem na alma a realeza e a beleza de um tempo que nem o tempo consegue apagar... Grande Luiz rei do grande povo brasileiro, lá onde ele mora ' no pé da Serra" em meio às sua lendas, sanfonas, zabumbas e tocadores, lá: '... a tristeza não passou.'

Helder Tadeu Chaia Alvim

Um comentário:

Canjerana Alvim disse...

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