terça-feira, 11 de outubro de 2011

Dias tristes para o sabiá-larangeira

 1. Os pássaros também tem seus dias ruins, como se não bastasse o movimento verticalizando São Paulo há décadas numa voracidade que cresceu no último lustro com a explosão imobiliária. O ser humano passou a cantar seu canto quase enjaulado, quer na busca de segurança, bem estar e a vontade de 'morar bem', quer pelas facilidades de financiamento, o crescimento demográfico exigiu redesenhar o mapa da cidade gigante e 'crescer para cima' tornou-se uma ideia fixa, um marketing elaborado e um negócio altamente rentável para as incorporadoras e empresas envolvidas.

2. A tara da balança descompensou outra parte, o habitat dos pássaros, principalmente  do  sábia-laranjeira se viu ameaçado. É a pura e cristalina verdade no meio da urbe fuligem, e o assunto não são rimas para enternecer a melancolia que deriva de seu canto melodioso nas tardes de primavera, nas preocupações que acompanham os paulistanos atarefados e apressados para chegar em casa a tempo de assistir a novela das oito.

3. A realidade triste que envolve como uma cortina espessa e intransponível  a vida do sabiá-laranjeira chegou mais depressa que podíamos imaginar. Leiam a matéria do Diário do Comércio - 5/10/2011, de Valdir Sanches e comece a plantar árvores que atraiam os pássaros canoros: "Somos a cidade que abriga o maior número de sabiás em todo o planeta. Porém, esse título pode ser perdido em pouco tempo por causa da falta de árvores nas ruas e casas que atraiam os pássaros, como as frutíferas.". Ele com muita propriedade e precisão cita o ornitólogo Johan Dalgas  Frisch , autoridade no assunto. "Mais sobre sabiás em www.dcomércio.com.br." informa o jornal.

4. Há muito que bato na tecla que acabou o sertão amado, com seus estribos de prata, sua pinguelas,suas vertentes e pirambeiras, suas noites iluminadas pelo céu estrelado. Tudo isto existiu sim um dia e o progresso destruiu, quando chegou apressado na boleia do caminhão à diesel, trazendo a moto serra e a noticia de uma era iluminada pela luz artificial.

5. Mas chegar ao ponto de banir o sabiá da maior Metrópole da América Latina é preocupante e significa muita coisa, muita perda de valores a favor de um progresso mal ajambrado e fora de jeito. Aportei em São Paulo, eu e milhões de brasileiros, oriundos do interior de outros estados da federação e pouco a pouco fomos absorvidos pelos conceitos citadinos e perdemos quase por completo as raízes de nossas origens.

6. O canto do sabiá representa e encarna todos os dias esta história e um pouco de alegria amealhada aqui no solo das oportunidades alvissareiras, mas dos cortes profundos que sangra a alma inteira.

7. Tudo acaba, como acabou um dia o sertão e suas histórias de perder o fôlego, a vida passa como os ventos lá para as bandas da Pirineus adorada, no entanto depende de cada um passá-la no bem e preservando os símbolos ou amontar espinhos para a hora da travessia ignorada.

8. A vida não é só trabalho, há momentos que são sagrados, a Família, a Missa Dominical, o dia da Padroeira Nossa Senhora. Aparecida,  Natal, 6ª feira Santa e também o Canto do Sabiá, a realidade atual atravanca os vôos da inocência e a tendência é a demência coletiva.

9. Espero que este dia nunca chegue e que a amplidão da era antiga, ainda consiga fazer reviver em nossos corações a necessidade vital do canto do sabiá, as ternuras da vocação brasileira, relegando as impurezas ao ralo da história, lá que é seu lugar. Deus salve o sabiá!

10. A robótica suplantando o ser... o sertão não existe mais... o sabiá resiste cantando para recordar aos seus irmãos homens um destino que virá nas asas do vento norte e soprará forte, mesmo à revelia dos que são contra  o canto auspicioso do sabiá laranjeira.

Helder Tadeu Chaia Alvim

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