segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Ao enfunar das velas

1. Você já sonhou sonhos estranhos? Eu já! 'Ostro dia' aconteceu de novo e perdurou uma semana inteira me catucando, por isso resolvi tornar pública as impressões deixadas, sem querer afirmar seu conteúdo, pois sonhos são sonhos e deixam quase tudo na penumbra sem explicações. Se a Sagrada Escritura afirma que chegaria um dia que os jovens teriam esta espécie de revelação, fica a pergunta para quem possa responder...

2. Neste caso em particular por se tratar de uma página de poesia, o crédito ou não devido ficará a cargo do caro leitor bem como a ampla liberdade de opinar. Vou entender as críticas ou observações e na medida da minha capacidade de intelecção responde-las pontualmente, prometo. Vou agora começar a tanger na bigorna da mente assuntando sua viabilidade em forma de estrofes, esforçando-me para reproduzir as palavras auferidas nas noites frias mas não menos vazias de sentido, em que o estado-da-arte começa a conflitar com os rumos tortos da nave terra.

3. Muita gente pasma, enxerguei, muita gente rezando, muita gente solitária, muita gente letrada, muita gente solidária, muita gente transpondo os umbrais da  sua última viagem, muita gente à margem da civilização, sem seus nomes conhecidos, comendo a rapa da panela num canto obscuro e sombrio.Muita gente pirada, muita gente à caça do consenso errado, muita gente defenestrada, sem posição definida, muita gente sensata confabulando preocupações, muita gente sentada na soleira de suas ilusões, muita gente lendo, compondo, cantando suas canções, muita gente escrevendo uma escrita inteligível aos não iniciados em suas averiguações.

4. E as noites continuaram sem parar despejando em minha cabeça seus insinuantes fantasmas de outro mundo e vi bilhões de gente nos quatro continentes, rodeadas de 75% de água, das quais 1/3 poluídas de uma enzima fétido e pegajoso, e elas estavam apreensivas a espera inconsciente de uma era de luz que sobrepujasse às trevas ininterruptas que as rodeavam. Nos laboratórios as rãs manipulavam as fórmulas das equações constitutivas para disseminarem o escoamento populacional.

5. E a caminhada insólita continua, nas nulas ruas de idéias nulas, de repente sopra um vento avassalador e vai levando tudo a eito por horas seguidas, uma tempestade se avizinha e chove morna sem molhar a terra ressequida. O fluxograma zera tudo, latitude, longitude, altitude e aquela gente de meus sonhos se vê completamente sem atitude. Os poucos que puderam se safar correram para o mar e viram a bom bordo a borrasca se aproximar, os valorosos grumetes arcanos recolheram as velas, a estibordo o impacto quebrou os mastros,oka! O assobio da 2ª ventania trouxe o maremoto colossal. Então acordei sobressaltado, ufa! esta foi por pouco!

6. Depois voltei a dormir! Para que... ao lado muita gente acessando ipods,outlouks, macthous globalizados, longe de tudo, tudo harmonizado, próximo, tocando a mão no destino do  caos. Percebi que a mola mestra escapuliu, levando consigo a parafuseta da fôrça  estática e as frações volumétricas das estatísticas. Aquele impacto fez com que vazasse, em proporções gigantescas o fluído do cabeçote emperrando a engrenagem e tirando do prumo o ângulo do motor.

7. Alternada a velocidade a marcha lenta desacelerou e a partida artificial não deu conta do movimento e tudo voltou ao estado-de-arte e toda aquela gente não compreendeu. Raiou em toda a parte a consternação. As fôrças embravecidas dos átomos assumiram a direção quântica. As noites, os dias , as tardes , as manhãs tornaram interdimensionais e intermináveis. S e sonho me visitar vou ver se consigo prosseguir... e zerar o assunto.

8. Do lado daqui as fábulas brasileiras teimaram em persistir sem as pertinências de La Fontaine,sem as ilustrações do saudoso Torquato Alvim e aquela fôrça brutal continuou e continuou  batendo em batentes sem exemplificá-las. Elas resistiram rotulando emblemas conceituais, manipulando a realidade ao sopro dos acontecimentos, cuidando de não encarar o panorama que avistaram para não assumirem a solução proposta.

9. Deixo claro que neste contexto de sonho e realidade não consegui discernir  bem um e outra. E em determinado momento a manobra arriscada dos arcanos dera certo, reativando os sensores da população e a grande fôrça aliada dos bites solidários restaurou a era do equilíbrio global e começaram a enxergar além das quatro paredes de concreto e viram um  mundo novo a ser construido desde os alicerces.

10. A mente, agora ajuizada, da humanidade, após os dias tremendos de provação aprendeu a lição e voltou ao controle da situação. A ela, segundo pude ver nas anotações dos arcanos, foi dado mais um tempo, mais uma chance de navegação. A ela foi dado uma nova missão de espalhar a harmonia, a verdadeira paz, que emanam do Deus vivo. A ela foi dado gerar versos e oferecê-los de uma vez  à boca ressequida daqueles que sobreviveram aos tempos difíceis.

11. À calmaria, antes absurda, sobreveio um vento benfazejo, as velas foram alçadas no mais alto possível com o emblema do mundo bom. Percorrida milhares de milhas marítimas, uma manhã de sol o marujo gritou: temos Terra à frente... O capitão acenou e iniciou o hino de louvor: "Te Deo Laudamus e todos repetira genuflexos: Te Dominum confitemur... E uma salva, duas, mil se fizeram ouvir.

12. Acordei diferente, fui a sacada respirar e sentir o sopro da brisa suave. Não veio, olhei em volta, realmente tinha sido sonho mesmo, lá na avenida o trânsito continuava veloz....

Helder Chaia Alvim


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