1. E ela saiu a conhecer o mundo seu nome era Anima em latim. Andou tanto que se cansou. Também pudera, viu injustiças a perder de vista,contemplou estupefata a ganância, avistou o destemor de longe, o movimento do obsequioso poder, as gerações embevecidas com o ouro e prata, preterindo os valores autênticos do passado e se rendendo compulsivamente a era on line, aos cybers de definição em alta.
2. Na complexidade de seu tempo sentiu a miséria, fome e frio. Encolheu em seu querer, assistiu guerras,os conflitos generalizados,a terra devastada,os cataclismos. Também chorou ao constatar o abandono da infância, a pedofilia roubando sua inocência e graça primaveril, o holocausto descomunal,a humanidade sangrando nas botas dos déspotas viscerais.
3. Presenciou as competições vãs, os absurdos devaneios, as violências contra a mulher, as discriminações seculares, os lares desfeitos e sem arrimo, os habitantes das ruas das megalópoles modernas catando lixo, césios e muitos protestos. Vislumbrou as esferas enigmáticas do pensamento contemperâneo, as aleivosias incompreensiveis,as catarteses soberanas, as ilusões momentâneas,as utopias gradativas,os dramas e violências da sociedade de consumo.
4.Em suma nesta constante evolução a par do progresso sadio e verdadeiro, do esforço de muitos altruistas,dos avanços da ciência da era quântica dos nióbios, viu envelhecer seus irmãos no desamparo e canto chorado em meio as manifestações de intolerância desbragada, as brigas pela terra, o derespeitos ao menos favorecidos da sorte, as oportunidades minguadas para a juventude de braço forte.
5.Nesta jornada inglória percebeu com indignação as arengas da desfaçatez. Viu enfim muito, percorreu extenso chão e no fim da longa estrada exclamou: - Porque? para que? e depois? Se a vida tem seu término, e o séquito mais glorioso recebe o consolo de sete palmos de terra fria e passado um tempo curto, não é ajuizado mais um louro pelo tudo.
6. Nas constatações que a alma se viu envolvida aflorou a convicção que nada mesmo encurta ou estica a finitude humana. E ela, a alma pensou pensares infindos, se aliou à bondade e viveu o resto de seus dias terrenos na humildade e solidariedade. Cantou sim, com mais vontade,conversou conversas de claridade, espalhou sem blasonar, a semente da sinceridade.
7. Rezou com fé e reconheceu a divina presença de Deus em cada centímetro de suas faculdades cognitivas.Deixou-se iluminar doravante pela luz etérea e acertou sua existência no temor de Deus e na crença da imortalidade, abriu de par em par sua mente para as verdades eternas.Sua conversão a Deus foi plena, pleiteou a amizade dos santos, entoou a virgem santa cantos de esperança,frequentou os sacramentos e no amor desinteressado e puro ao intangível estabeleceu uma ponte ao divino.
8.Então,somente então se deu conta o quanto havia desperdiçado o tempo nas futilidades, o quanto havia ocupado mal seus sentimentos, o quanto havia errado, o quanto havia lesado o semelhante. Daí em diante não mais aborreceu a vida,não mais queixou-se das desvalias e viveu seus dias na alegria, penitência, caridade,convicta de uma futura acolhida diante da face de Deus,onde veria sem véu o que na terra cria.
9. Numa antevisão parecida ao êxtase, antevia seus sentidos sublimados, na totalidade da visão de Deus passando a eternidade admirando as perfeições do criador.
10.Os anos se passaram e ela não esmoreceu nos seus propósitos, perseverou na alegria, suportou as vicissitudes, amou o próximo de verdade, atuou na sociedade levando o calor humano em direções amplas, aproximou-se da plenitude de seus anos e ela pressentiu a chegada da notícia derradeira...
11.Não estava só, ao movimentar-se em direção ao bem,viu que outras Animas, mais belas que ela,também direcionavam suas aptidões para a Grande Luz e quanto mais se aproximava, do eixo de sua evolução gravitativa, mais e mais refletia a perfeição incomparável daquele eterno ser que iria agora conhecer.Suas tonalidades de topázio, esmeralda,diamantes, turmalinas, desenhavam a empiricidade dos movimentos perfeitos de Deus. Suas visões de fé não a enganaram,existia mesmo...
Helder Tadeu Chaia Alvim
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