1.Que coisa formidável é observar um varal de roupas que depois de lavadas, batidas, esfregadas vão parar justapostas, coloridas, levantadas por este indispensável utensílio doméstico. O mais comum deles é ainda o de cordinha de nylon ou arame tendo como suporte um bambu, o preferido dos usuários.
2. O pregador, outro acessório importante compõe a performance e mantém unidas as peças de roupas em exposição de secagem. Assunto à parte, configuro a mente na transposição oblíqua para outra vantagem. Ao escrever alguns versos o poeta utiliza a mesma técnica manual a sua cabotagem, vejamos na sequência da teoria poética.
3. O varal exposto recebe o volume de seu esforço, quer seja em um blog, um livro editado, uma mera declamação despreocupada, solicitada e incentivada por algum truta camarada.Percebe-se que tem a poesia festiva, triste, a enigmática, a descomplicada, a empoada,expostas ao juízo categórico da platéia e da critica impiedosa.
4. Às vezes o sol arde e elas são guardadas na gaveta de suas miragens, ou vem a chuva e o desavisado lembra que as esqueceu sem proteção, quando o vento sopra descontrolado e sem pregadores adequados são arrancadas e deixadas de lado.
5. O ideal é quando encontram tempo firme, calor controlado, depois ao fim do dia são retiradas com carinho, ainda quente do mormaço da tarde e vão morar no cantinho do coração do leitor, raridade rara, as felicito com uma salva de palmas.
6. Das produzidas, poucas são adotadas permanentes, tem a sorte de receber um trato conveniente, um comentário que as façam se sentir vivas, quando não sem as variantes da publicação, jazem nos rascunhos, incompreendidas,desencorajadas , esconjuradas até ,que não conseguiram a chance da impressão e divulgação. Por um golpe sem razão,insistem no gólgota, estampando na face a sofrível decepção, sem ao menos terem encontrado um Dimas companheiro para lançar-lhes na fronte exangue um olhar de amor, amparo e resignação.
7. Vida dificil é essa do poeta de esquina, mas ele não desanima, insiste no canteiro da inspiração,Dandi que 0 diga, acalenta sonhos, cultiva anseios, personifica a fugacidade da vida, debruça-se no papel em branco e o povoa de populosas letras, depois as deposita com carinho na vitrine apagada das oportunidades, esperando contra toda esperança a sentença favorável dos inquisidores da consciência moderna.
8. Sempre paciente, gritando mudo, aguarda o salvo conduto, para guiar suas letras ao mundo da leitura, percorrendo com elas as edições de capa dura, escolas, livrarias, cafés em cybers, lares e outras particularidades. Não vendáveis se calam, mudas falam ao mundo que as encalham...
9. Até quando vão aguentar o anonimato, não são autómatas, reflexivas tem iguais direitos,conquistaram na antiguidade o pensamento, percorreram o mundo do direito romano, teceram com suas mãos o Manto Sagrado de Cristo, nas catacumbas alumiaram mentes puras, sairam a luz da grande proclamação de Constantino, viram Roland cantar os feitos nobres de Carlos Magno, circum-navegaram o globo, estiveram com Camões épico em Celta, renasceram com Da Vinci, Dante, Frá Angelico, cantaram com Assis, o poverello, com Pedro II, Isabel e Taunay engrandeceram o império, na pele de Euclides conheceram a sertão agreste, com o lírico Drumond pesquisaram emoções, na pele de Guimarães destinaram a brasilidade das razões interioranas. De Fernando Pessoa destrincharam pensamentos estabeleceram sentimentos.
10. Se falam declaram sua missão sem peias, são o espelho do seu tempo, refletem angustias, peregrinam no dia a dia, analisam sem pretensões de guias, crises individuais e coletivas, decifram enigmas, paradigmam ousadas idealizações.
11. Percorreram na era clássica e percorrem ainda hoje os ventos da desilusão sem chorar o pranto amargo,
tem a capacidade também deamar, odiar, sentem fome, abandono e caminham à sua maneira anunciando visões complexas do universo , rodeadas de versos, dores suas e alheias, titubeantes, sim, mas sem regatear imponderáveis, abençoam, bendizem, predizem,frágeis, sensibilizam com o naufrágio do mundo bom, esperneiam, se horrorizam com a truculência do princípio do mal, do poder das trevas que as rodeiam.
12. E dando prosseguimento ao raciocínio sem aprimoramentos tangíveis, anotam, denotam preocupações acerca de notícias graves tal qual H1N1 , que atinge o mundo e ceifa vidas sem conta. Ah! e a violência em escala avançada não podem olvidar sua sanha maldita.Oferecem nesta página uma homenagem ao jovem ciclista baleado e morto na marginal da cidade de São Paulo sem o abrigo da proteção... sua mãe perdera seu sorriso meigo e a sociedade a decepção de mais uma vítima, mais um espinho encravado no seu coração.
13. E a caminhada continua, do nada se acentua aos pobres poetas de esquina, sem rosto,sem vez e oportunidades,mas cônscios de sua responsabilidade de falar, falar e não se calar...Vêem o estado de direito perder campo e o simples existir endereça cartas e mais cartas de assombro. Quantos vão dormir o sono dos injustiçados para nunca mais acordar nesta vida fugaz.Seria bom , muito bom que acordassem amanhã dia 24/05/2009 - domingo, em São Paulo clarividente e o dia fosse diferente, ponderado, sem rumo inconsequente, os prumos alinhados na bondade, aliado ao calor humano, diferenciados, mas uníssonos no bem sem restrições.
14. Neste concerto harmonioso, as poesias, coadjuvantes atentas, cantadoras sinceras de realidades plenas aguardam ansiosas novos rumos, novos ventos de camaradagem, respeito, solidariedade, segurança plena, patamares que sempre nortearam esta grande e bela cidade de grandiosidade extensa, propensa a solidariedade, falo da São Paulo das mil razões, objeto incessante das canções dos trovadores, poetas, músicos e artistas urbanos.
15. Sem retocar a maquiagem foi o que me confidenciaram as rimas soltas num sussurro aberto e que deixo no fim destes versos: Que o grande varal multi colorido da grande harmonia na diversidade volte a ser levantado nesta cidade, bem alto, segurado pelos prendedores da lealdade, para regozijo e apreciação de seus milhões de filhos, foi o que disseram a este pregador mínimo.
Helder Chaia Alvim
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