sábado, 9 de maio de 2009

Impressões de um poeta de esquina na São Paulo intuitiva

1. Não me ufano de escrever, sinto-me feliz em viver, o que mais eu gosto é passar um café no coador, pitar um cigarro de palha, um trago da pinga do alambique, olhar o firmamento, jogar conversa fora, demorar na prosa com os amigos, depois rabiscar versos e é o que faço agora.Não sou forte, fraco me declaro, tenho meus medos e fantasmas, apreensões e cismas,culpas, erros, acertos, desencontros, apertos financeiros, porém, confesso, a vida me sorriu.

2. Na infância pude percorrer as campinas ensolaradas do Norte Fluminense, ser Flamengo,colher o carinho da família amada, vi na roça gente alegre de peito aberto cantar na colheita, abraçar as belezas de um tempo que se foi, saboreei manga, jabuticaba, andei à cavalo, sonhei acordado lá na Pirineus, meu diminuto condado.

3. A juventude foi agradável, estudando à noite no povoado do Tobias, paraiso de aconchego,inocência e muitos passeios( Cantos da antiga era,minha existência), depois o seminário, o conhecimento dos livros, a formação filosófica foi de bom proveito.

4. A idade madura veio, primeiro no Rio de Janeiro, em Niterói, gostava de atravessar as barcas da bela Guanabara, tio Odilon Ferraz e tia Lizete Chaia, quanta proteção me dispensaram, o primeiro emprego foi demais.

5. Depois os ventos do destino me conduziram para São Paulo populosa. A cidade orgulhosa de suas dimensões me acolheu, me ensinou na lida ser um poeta de esquina, me inspirou conceitos,informações preciosas que guardo agradecido, e hoje revelo sem véus os desígnios que atino, digam lá!

6. Não pretendo daqui me mudar, no contexto desta cidade tem-se tudo o que se possa imaginar Contrastes,paradoxos, semelhanças, solidão,multidão de gente apressada, amigos com sorriso largo, pretextos para sair de madrugada, lotação apertada,trabalho na alvorada, inventaram até o bilhete do madrugador, olha isso, meu senhor, bikes para o ciclista na estação do metrô.

7.E não para aí, não pretendo descrever as coisas ruins, fica por conta da mídia,que acompanha a mínima notícia e revela as nossas feridas sentidas, se esfria, chove, esquenta, o ânimo frequenta estados de múltiplas consciências, não sei não, não dá prá acompanhar a alta voltagem da energia cinética que abriga a São Paulo das vantagens e oportunidades quilométricas.

8.Antiga na idade, ela somente ela se remoça inovando qualidades, se fosse descrever sua biometria avançada, o limitado espaço desses versos no improviso não seria suficiente para fazer-me entender de verdade e perderia o fio da meada nesta longa estrada.

9.Fica-se impressionado, cada bairro tem cara de uma cidade,cada cidade na extensão metropolitana é um mar de atividades, encontramos Octavio Pinto de Almeida na Mooca dando aulas de pintura com talento e generosidade, em Pinheiros Zezé Bueno, no teatro de qualidade. Em toda à parte o caldo cultural é servido à vontade, contempla gostos, tendências e idades. O anonimato mantem o cidadão moderado, se ninguém parece observar ninguém, não se iluda nada passa desapercebido pelo transeunte paulista intuitivo.

10. Que me acuda o repente, pois este solo é diferente, abre o coração e a mente, revela poetas do povo, artistas veteranos, escritores de renome, engenheiros do concreto protendido, empresários bem sucedidos, empreendedores contumazes, trabalhadores da contrução civil, pilotos do volante, juristas afamados, promotores das vendas, inseridos no sistema. Encontramos cirurgiões de primeira linha, corpo docente especializado, empresas estabelecidas, comunicação de primeira linha, decanos do direito, as fardas brilham na azáfama diária, a corporação dos bombeiros, estampa seu brio e competência, a polícia científica não falha, a par da dimensão cosmopolita se apresenta aparelhada e instruída.

11. Bares, restaurantes, lojas, firmas, conglomerados de shopings centers, arranha-céus, aeroportos, longas avenidas, condomínios,Igrejas, monumentos, parques, vilas, vielas, ruas, casas populares, favelas, gente catando lixo, morador de rua, desemprego. Tudo isto em um só lugar, dá para pirar! A cidade de Frei Galvão tem pressa, sabe sempre encontrar a via expressa, intuitiva carrega luz própria, interativa pulula de impressões contraditórias, prestativa, reveste-se de graça peremptória onde gravitam realizações meritórias, ocupa a mente, divaga sonhos, inspira versos, que detalhados no reverso encontram nela o reflexo de sua própria imagem.

12.Confusa metrópole mastodonte, neste chão de Borba Gato, habitar tornou-se um tremendo desafio, constato. Também por outro lado ela nos anima a cada dia, nos deixa realizados, agasalha milhões de filhos, seu projeto de vida, apesar das aparências, nunca foi o mundo do ter, ser por excelência cidade poema, ultrapassa de longe o tira teima de seus enormes problemas.

13. São Paulo, terra de Ayrton Senna, herói a quem dedicamos este poema, ela sai sempre na frente, transpondo diferentes obstáculos, aparentes percalços, levanta-se de conscientes nocaute; se me alenta a escrita, a vírgula se perde na confusa contradição de meu lento raciocínio, se anula perante a grandeza de uma cidade intuitiva que admiro, e recebe hoje este mimo que imprimo, trova mínima de seu poeta de esquina, impressões que carinhosamente assino.

Helder Chaia Alvim

Nenhum comentário:

O cacarecado x ativismo do senso comum

  O cacarecado x ativismo do senso comum O momento estonado traz um viés de tudo ou nada, uma espécie de negação das verdades absolutas em p...