Hoje tenho 50 anos. E em pensar que envelheci, a juventude passou, a idade madura chegou a passos largos. Realizei muito pouco do que queria. Os arroubos da mocidade estão guardados a sete chaves. Entre erros e acertos muito pouco restou. Num relance vejo um filme em preto e branco alternado de algumas cores, protagonizando altos e baixos. Os entraves da existência me acompanham, os colegas do ginasial não sei por onde andam, as f1.orças me faltam. É natural, já não tenho a vitalidade, a disposição para andares não calculados. Idealizei a meu jeito a bondade, sim! Argüi a maldade e constatei que a humanidade desgastada também se iludiu na rampa de tanto esforço em vão. Chegou a cair no chão e a miss em cena não recolheu os aplausos, nem chegou ouvir a ovação. Se mérito os tive, são estes escritos que assimilo os declives de uma sociedade em acelerada expansão, direcionada para crises que a deixam fora da razão.
2. No banco da escola, entusiasmei-me com a trans- amazônica, vi o astronauta pisar na lua,usei brilhantina, calças boca de sino, vi homens derribando matas a favor do pasto e do plantio. A fumaça à óleo diesel conduzindo os colonos em demanda das cidades povoadas. Moço ainda tive condições de andar de vespa, dirigir o vw gordini, naqueles tempos que o ônibus Jardineira cortava os morros trazendo em seu bojo as notícias da inevitável evolução. As amarelinhas, o soldadinho de chumbo, o pião já não encantavam a meninada,as cantigas de roda, as quadrilhas iluminadas, sucumbiam ante o sonho eldorado das revistas em quadrinhos, das tvs americanizadas. Mais tarde a energia elétrica iluminou forte aquelas serras, a lua na amplidão ficou esquecida, os vaga-lumes solidários se refugiaram nos cantos escondidos dos seus sonhos, os roncos dos motores, as buzinas estridentes silenciaram a maria-fumaça, relegada ao pátio abandonado da dita era “atrasada”.
3. Tenho saudades da Estância Pirineus, de meu avô paterno, Plínio, homem probo e inteligente, do fogão à lenha,do lampião, da lamparina, dos causos que nos contavam, do saci pererê, do lobisomem, da mula sem cabeça; dos jantarados, da fartura, do café, do carro de bois, do arado, dos tabuleiros de arroz, do campinho improvisado, as cavalgadas pelas planícies, as trilhas na mata virgem, a família numerosa, a festa da Santa no Arraial do Tobias, da folia de reis, os casamentos que presenciei, as ave-marias, as ladainhas cantadas,as procissões do mês de maio, os terços de Nossa Senhora entoado por vozes piedosas, as tristezas que vivenciei, as cruzes do cemitério onde guardam as memórias de gente que amei.
4. Tudo isto se foi, levado à esmo se pôs. E me encontro na cidade grande onde o movimento é fato presente, gente manuseando lixo, à margem da normalidade, tropeçando na miséria, expostas à intempéries na curva extremada de uma estrada que já foi nossa e parece que não há quem possa solucionar a questão enunciada. Foge da tese a prática, da consistência a lástima e a pergunta vai e volta sem resposta acertada.
5. Ah! se pudesse editaria versos, publicaria nos matutinos, criaria condições sem suspirar pelos créditos nas versões. Ilusionismos! Puros ilusionismos de um poeta flautista, dirão os céticos rebatendo esta entrevista. Se a viabilidade foge à minha modesta concepção, nem por isso deixo de externar, fazendo jus ao uso do direito de opinar facultado a todo e qualquer cidadão.
6. As ferramentas de trabalho do poeta são a escrita de onde deriva sua inspiração. A alma canta embora a matéria clama desalentada de projeções declinadas. O papel aceita de bom grado a tinta que nele é plasmada. “ Senhor Deus dos desgraçados...” já falava o poeta decano. O assunto que trato não é novidade, apenas alinhavo em versos próprios aquilo que é sabido da humanidade, as tonalidades variam mas os problemas são os mesmos debaixo de nossos olhos cansados e apreensivos. Luis de Camões, imortal e épico em sua lhaneza personifica o velho do restelo com clareza: “Oh! vã ciência de mandar, oh! vã cobiça que se chama honra...”
7. É hora gente sensata de rufar os tambores, acertar os sensores, fugir dos rumores, pois a mão que manuseia o conhecimento, saboreia o progresso, detém os elementos é a mesma que pode viabilizar ao semelhante a vitalidade que é inerente a sua condição humana. Em última análise se quiserem poderão devolver-lhes a dignidade, o sorriso tão peculiar de sua brasilidade. Há meios, o apoio da sociedade, sejam as mãos perfumadas que oferecerão oportunidades, solidariedade, calor, eu lhes peço por favor. Eu digo realmente se não me tornei sábio, apesar da idade, a vivência me empurra para deixar registrada estas palavras, não de censura, mas de livre arbítrio, na espontaneidade e esperança que a luz divina impulsione a todos os que vierem a ler estes versos do coração a refletirem e mais do que isso a sentirem a sensação do bem estar das mãos que oferecem rosas.
8. Que a ilusão, tão peculiar à nossa geração não pulverize sentimentos nobres, não estabeleça normas tortuosas, não enfraqueça as fibras sadias, não consuma as energias que nos poderão guindar para um tempo de paz e harmonia.
9. Fica dito, o intuito revelado não foi mero acaso.O tempo atual carregado de preocupações, crises avolumadas, senões e um sem número de interrogações tem assunto de sobra, soluções nos faltam. Sinais! Não creio, acredito na inteligência humana, na vontade soberana do bem, na força criativa de Deus donde emana o bom senso restaurador. A fase negativa pode ser neutralizada se a chave positiva for conectada a tempo ao chip do Amor. Simples assim ou complicado ao extremo? A resposta não sei! Dependerá da escolha.
Helder Chaia Alvim
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