A c a
r t a d e S í t e r o,
Prezada Arte
a. Escrevo-lhe
hoje não por email, whatszap,
ferramentas importantes da era digital, mas vou me utilizar do modo antigo, sim
porque não? Fazía isso na época do ginásio, que até esqueci o formato. Era bom,
muito bom depois ir postar nos correios a correspondência, o ato em si
revestia-se de uma solenidade prazerosa. Ah! Aqueles selos variados, a cola
arábica, o envelope de cor branca, com riscos amarelos, azuis e verdes? Trazia
impresso as palavras: via aérea par avion ! E ficávamos à espera da resposta, e lá
vinha o carteiro depois de algumas semanas entregar a carta. Pois é, tudo isto
se foi, levado a esmo se pôs e o movimento on line apressou tudo e encheu a
vida das pessoas com o nada em ebulição...
b. Déia,
hoje lembrei-me de você, foi uma lembrança suave, recordei de sua última viagem
à São Paulo, sua empatia com esta cidade, sua intimidade com as rosas do
concreto, lembra-se? No meu caso alembro bem, tive infância, subi as grimpas
das serras, escorregava pelas pirambeiras
em cascas de palmeiras, pescava lambari no rio neblina, aprendi a cartilha com minha
bondosa mãe Geralda, aprendi ‘a amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo igual a nós
mesmos’. Infância distante, infância feliz, e as cirandas ao luar, com meu irmãos e primos, uma
algazarra só. Mas na tenra idade o destinou me separou deles, cada um foi para um lado, cuidar de seu recado.
c. Cresci,
mas o torrão da terra natal ainda hoje perdura em minha memória
de estórias mil, lá não sei porque seu sol tinha algo de diferente, dourava tudo quanto
tocava, e fazia brotar canções nos lábios que acariciava. Depois de muito chão,
a prosopopeia daquelas serras azuis brilha ainda, e me convida a escrever
versos e mais versos ao amanhecer. Hoje moro na cidade grande, cheia de
detalhes, cidade esta encravada no planalto de Piratininga, que dista uns 970
km de minha querida Estância Pirineus no Noroeste Fluminense (RJ).
d. A
razão desta missiva, um tanto longa e para relatar minhas impressões de quase
escritor, que vive entre o concreto e o abstrato de uma metrópole insone,
aguerrida, hospitaleira, irônica, franca, forte e fraca ao mesmo tempo, aliás
você a conhece muito bem, pois aqui nasceu, viveu grande parte de sua
juventude, se formou no balé clássico. Ah ela
acolhe sonhos, dissipa
esperanças, espalha movimento, criva seu solo de cimento, muda de estações num
mesmo dia, esfria, esquenta ao compasso de horas, demora e adianta seu querer,
enfim inspira canções, respira poluição, respeita opiniões, incentiva as
gentes, deprecia intolerâncias, e parece não querer perder a pose e o status de
condutora dos destinos da nação Brasil.
e. Ora
pois, se me permite me estender mais um tanto, vou relatar, minha cara, um dia
dela, da grande e dinâmica cidade de São Paulo, quando ela comemora sua revolução
constitucionalista de 32, marco importante na democratização do Brasil, então
fechado pelas duras botas do Sr. Getúlio Vargas até quando São Paulo se rebelou
e pagou com vidas um alto preço por afrontar os desejos de hegemonia ditatorial
do então Presidente, o gaúcho Vargas.
f.
A aliteração se ausenta completamente de
seu parecer, a assonância acentuada persiste e move seu modo de ser, sem
prosopopeia ou animismo, é uma cidade concretista, ainda hoje teima em se
expandir ultrapassando seus limites, superando crises, e em riste sempre
encontra motivos para sorrir, as vezes chorar, sem auto piedade respira fundo e
se inunda de sonhos, e não se iludam os desavisados de plantão, máxime da
politica partidária, ela não se contenta só em versejar seu ideal de liberdade
e bem comum, mas acorda cedo para beber na fonte a água limpa da democracia e
agir no sentido que o bem maior da nação se torne uma instituição livre,
atuante e verdadeiramente brasileira.
g. Ela,
mesmo displicente, não se deixa iludir pelos fantoches de Brasília, pela
corrupção sistêmica, haja vista, irmã dileta, que em junho de 2013, por um
simples aumento de tarifas dos ônibus na capital, ela trouxe a rua muita gente,
e depois disso muito aconteceu à nível nacional, temos uma presidente em
processo final de impedimento, três ex presidentes sob suspeitas ( não
condenados). Que mais? Tantas e tão diversas coisas que o espaço limitado desta
carta não suportaria linhas em profusão.
h.
O fato de seu amigo está escrevendo
estas linhas, foi porque ao viver aqui neste solo, a gente também fica
contagiado em suas ruas com tanta gente querendo a bem querença e a abastança
geral para cada metro de terra deste Brasil brasileiro. Na verdade a metrópole
parece dizer coloquialmente aos seus transeuntes: filhos e filhas, não se avexem não, vamos agir no sentido de purgar
esta crise sistêmica, vamos lutar para que a honra volte a contagiar os
mandatários do poder, vamos fazer acontecer a democracia plena de 32, atualizada para nosso tempo, vamos
respeitar e aplaudir a promulgação das leis constitucionais, e voltar a ter orgulho
de nossa bandeira nacional.
i.
Vejo que o que foi dito corresponde aos
seus anseios, desnecessário seria destilar aqui nesta pauta, estilo e classe,
pois mesmo nesta caminhada atual com laivos escatológicos, a cidade urbe, se em
determinado momento caminha descalça sobre lodos de loucos calabouços, ela
vislumbra a saída honrosa não só para si, mas também para o conjunto da nação brasileira. Bom,
minha irmã, no dia nove de julho p.p, 84 anos após os acontecimentos ensaístas
do estado de direito democrático o sol finalmente deu o ar de sua graça diáfana
por estas bandas, tímido mas salutar, resolvi bater pernas ao léu, estava lindo
o dia, os raios da madorna refletiam nos prédios coloridos, desenhando neles
figuras variadas, a temperatura controlada dava a impressão de se estar em
pleno veranico; sem chapéu arrisquei a caminhada à caça da bendita inspiração. Subi a rua Bela Cintra, uma breve
parada na Igreja de São Luiz Gonzaga C.J, e depois lá fui eu anotando no
cânhamo as impressões de um domingo diferente, tendo como fundo quadro a
lembrança de 1931 com a queda do café, a crise de 1929 que deslocou grande
parte da população do campo para São Paulo, tornando-se maciçamente urbana.
j.
Sem chapéu, ausente o fotoshop, risos,,, me
senti só no meio da multidão que locupletava a avenida mais paulista de todas,
aliás fechada à veículos, parecia mais um imenso calçadão franqueado a todos, e
tinha de tudo, músicos do arrimo, feiras livres, crianças brincando com
bambolês, gente para cima e para baixo, grupos musicais dando uma canja aos
transeuntes, e como não poderia deixar de ser, os protestos contra a corrupção,
independendo o partido politico, muitos deles viraram alvo destas manifestações
em prol da democracia, em frente a Fiesp, muitas barracas montadas, gente
acampada, aguardando o veredicto do senado, o famoso impedimento em curso! Vi o
concreto armado rodear a multidão, os arranha céus, orgulho da Metrópole com
seus mais de 11,89 milhões de ha, equivalendo segundo o IBGE, 6% da população
brasileira, que hoje atinge a cifra estimada em 202,77 milhões de habitantes.
Contemplei por uns instantes fugidios a aglomeração à minha volta, quantas
faces intuitivas, alegres, brejeiras, as construções homéricas esbanjando
charme, arquitetura de ponta, desafiando a lei de Isaac Newton, e uma cidade de
estilo próprio, sem muito verde, que
teima em ser a condutora do movimento, que ocupa o posto de vanguarda
financeira da América Latina.
k. Ás
vezes alguém caminha ao meu lado, ouço seus passos descontraídos em companhia
de seu animal de estimação, esses mesmos passos que no dia seguinte vão correr
em busca de seu status social, é o cidadão (ã)
paulista inveterado(ã) em seu pensamento, corre e corre a semana toda,
transforma-se em uma espécie de
bandeirante da era pós moderna, e só se aquieta nos fins de semana, este modus
vivendi contagia seu sangue, e se você se apresenta como um ser lírico à busca
das realidades empíricas vai ter dificuldade em interagir com ele por completo.
l.
A não ser se você na arte ser tornar um
agraciado da mídia, aí ele vai privar contigo
longas e prazerosas horas de flanação, primeiro ele ouve seu proseio
para em seguida demonstrar conhecimento geral da literatura, fala que tem algum
livro autografado por este ou aquele lente das letras... que visitou a ultima
exposição de Dali, Tarsila, Merisi Caravaggio, Monet ou Rembrandt
e Van Gogh no MASP, que assistiu
o lançamento de certo filme cult no espaço Itaú Unibanco, Paris – Manhattan é
seu preferido, que participa da Ong, Transparência Internacional, Green Peace,
e que quer ajudar a salvar as baleias ou os golfinhos. E fala com sinceridade,
e se empolga a cerca da história universal, Copérnico, Rosseau. Churchill,
Gandhi, gosta das éclogas de Virgílio, cita textualmente Camões e Fernando Pessoa,
a Iliada de Homero, curte Osvaldo Montenegro, Zeca Baleiro, Renato Teixeira,
Alceu Valença, Zé Ramalho, Elis, Raul e Taiguara, cultua Aroldo de Andrade,
Libero Badaró, Antônio Ermírio de Moraes,
Gonzaguinha, é mesmo ! E a prosa se estende nas casas da rosas, hoje uma
instituição cultural que leva o nome do poeta Haroldo de Campos, e para
encerrar o meu consulente cita ainda Mario de Andrade e Álvaro de Azevedo, E vai
indagar do consulente se já foi assistir a ultima montagem do musical ‘Tempestade’
de Shakespeare no Tucarena? E de quando em vez tem arroubos de saudosismo com
Adoniran, Demônios da Garoa e Benito de Paula, e quer assistir de novo, a Douce
Vitta de Federico Fellini. E mais vai lhe perguntar invariavelmente sobre a
ultimo espetáculo Spartacus do Balé Bolshoi no Teatro municipal do Rio de
Janeiro! Vejo que o paulistano, assim
como a maioria dos mortais ( nós) vivemos plugados, agarrados no tal WatsApp,
mas se te encontra para um papo formal, ele adia a navegação por uma hora,
depois esquece... que você vai ficar falando sozinho!
m. Voltando
à avenida, já é fim de tarde, e o sol vai se despedindo da galera, e promete
voltar qualquer dias desses para dissipar a depressão do frio, já que a magia
de sua amiga garoa há muito que não aparece, e sem desmerecer esta cidade que
me agregou ao seu sonho louco de unir ao abstrato o concreto, avisto uma
pedinte, me detenho um pouco, pergunto
seu nome e ofereço alguns tostões, ao que ela sorri um riso solto e me abraça e
agradece o quinhão! Eh, dileta bailarina,
o relato se estende, e agradeço sua paciência em me ouvir, pois ainda faltam 7
letras para complementar a descrição de um domingo especial deste seu admirador,
cantador inveterado de rimas, que tange
a bigorna dos versos, inversos escritos sem perceber, pois desde que o mundo é
mundo a legião dos poetas cantaram seu canto, choraram seu pranto com arte,
talento e engenho, qualidades que não tenho, apenas me esforço para vender meu
peixe não nas tendas de célebres xeiques, mas no recôndito escondido de seu
coração intuitivo, inteligente e incentivador de meus escritos, será sempre meu
doce empenho, tenho dito!
n. O
poeta já teve um pé ne helênica pátria, conheceu gregos e fenícios lá bem lá
no inicio de sua jornada, esteve
presente em todas as eras históricas, uns pobres desconhecidos, outros de sorte
fulguram na literatura antiga, clássica, moderna e pós, e será assim até o cair
da ultima folha verde na consumação arcana. E o maior, mais célebre foi e será
sempre Aquele dos versos perdidos, Aquele que detém o tempo e a história, que
acalma ventos e tempestades, e que poderá restaurar alma individual e coletiva
da nação Brasil, Aquele que um dia às margens do Mar da Galileia proferiu
palavras de vida perene: ‘ Amai-vos uns
aos outros... olhai os lírios do campo’,
por sinal nosso Deus Humanado, fonte da sabedoria, mansidão, força,
Jeshua, o Mestre Divino a quem ofereço estes singelos traços e outros mais... Minha irmã, você
sabe, a metrópole paulista é extensa e contrasta no avesso de sua antítese
entre o concreto e o abstrato e me insiro nela.. você já definiu este meu estado de espírito ser e
ter... e por esta razão resolvi me estender nestas linhas, sabedor que tenho
alguém do meu sangue que me entende melhor que eu mesmo, risos... Ela, a grande
urbe, coexiste sem traumas na harmonia, e em meio a sua diversidade cultural e
financeira, ela, auto critica por natureza conhece seus problemas domésticos,
está sempre pronta a dar o ombro amigo, não discrimina os poetas do povo, nem
tão pouco consegue dar-lhes voz e vez, mas este domingo ameno propicia muitos cordéis da rima a mostrar seu
trabalho, composição, performance nesta rua de todos que é a Avenida Paulista,
centro financeiro mais importante do Brasil. Isto posto continuemos na locução
poética, para absorver a inspiração e plasmar no papel em branco a versão de um
sonhador que é o ´menino esquisito’ de
d. Idalina, o ‘irrequieto’ neto de Vó Vivina, que ora lhe escreve.
o. Tem
gente aguerrida nas ruas, pleiteia um Brasil melhor, a cidade sorri, um riso
disfarçado de apreensão e tristeza, dado a corrupção espantosa na malha politica
porque passa a nação, vendilhões do templo da republica assenhoram-se do erário
com fome de mil dragões, a honra fora conspurcada, a ética engambelada, bandeiras
sociais tremularam à guisa de dolo, e na calada laia dos ministérios, verbas e
mais verbas foram açambarcadas deixando a nação brasil à beira de um colapso cívico,
ético e financeiro, mas... mas... embasados no direito de livre expressão que
lhes faculta a constituição federativa, milhões de brasileiros acorreram às
ruas soberanas pedindo o fim destas aleivosias, e tudo parece , a reversão dá
sinal positivo de esperança, e o Juiz Moro e sua capacitada equipe não estão
dando tréguas aos malfeitores do poder, e acenam para um pais, justo, e auto
determinado, plugado doravante no bem comum maior inerente aos seus mais de 207
milhões de ha.
p. Um
frêmito de certeza pude colher daquelas faces da brasilidade em pessoas, a
politica qualquer que seja ela boa ou ruim passa com os ventos lá para bandas
de nosso sertão iluminado, não é verdade? E estas fisionomias pareciam dizer a
cidade de São Paulo, quiçá ao Brasil inteiro:
‘ Oh! Sampa, oh! Pátria, mão gentil, força em
Deus e na patrona negra de Aparecida, não importa o mal que te acometa, estamos
contigo, estamos aqui de pé, animados em te defender destas aves de rapina,
encasteladas no poder, não se avexe não, és um pais de fronteiras continentais,
de povo pacato e lhano, de sonho latente, lá na frente acreditamos que tu vais
continuar a gerir seu destino, renovada no amplexo do bem comum maior, aguenta
firme que estes miasmas vão se dissipar com o grito altissonante do gigante,
‘pois os filhos teus não fogem à luta’, e o começado em 1933, abriu o franco
glorioso do direito constitucional, pois em São Paulo tempo houve que
brasileiros deram o sangue pela convicção de uma nação em que a auto
determinação vingasse a honra, o estado de direito, os valores da cidadania, a paz
se lhe apraz!
q. Ah!
Já que você me nomeou poeta andarilho, a que fico imensamente lisonjeado,
e fazendo jus ao cargo recém empossado,
estou mostrando serviço lírico, no intuito de passar de ano na nomenclatura
poética, que tal hein continuarmos a caminharmos juntos neste mister prazeroso?
Se lhe agrada para ‘exorcizar as ideias’, enquanto se faz tarde em Piratininga do planalto de Nobrega e
Anchieta, Mem de Sá e palmilhado pela figura santa de Frei Galvão
e tantos outros e outras valorosos paladinos da fé autêntica, e defensores da
civilização cristã, aquela que nasceu no gólgota das dores, quando o Nazareno
foi ferido no coração pela lança
pontiaguda do centurião Longino, há exatos dois milênios atrás, aquela que mereceu da Virgem Mãe seu
primeiro osculo de esperança!
r. Por
estas razões enunciadas acredito que um dia vai se realizar a profecia do mundo
bom, Pois não é possível que o mais belo gesto da história tenha sido em vão, e
em pensar nisto, chegamos aos contrafortes da avenida e de longe avistamos a
estação Metro do Paraiso, nossa jornada está prestes a terminar, deparamo-nos
com figurantes anjos, e pensamos na realidade anímica que nos rodeia, invisível
mas existente mesmo, insistente, a mover os corações na Terra do Homens, para
que o ‘profano’ se assemelhe ao soberano, mesmo que para tal a humanidade tenha
que novamente subir o calvário, sofrer
as agruras da crucificação moral e psicológica para depois ressurgir para um
porvir totalmente voltado à Rosa Mística de Eleição.
s. Um
sinal, apenas um tenro sinal, me deparei no canto do asfalto com uma pequenina
rosa brotando... e nomeei-a a rosa do
concreto armado, e concomitantemente a isso apareceu ao meu lado alguém
de olhos vivos, com jeito de menina, tez argentina se deteve e dispôs-se a
transplantá-la, doravante seria a expressão maravilhosa de um concerto amado! A singela rosa brotou em situação adversa, resistiu,
encontrou a boa samaritana de nome Prado de Mel, e sua vida adiante seria a
junção harmônica e possível do ter e ser, tão ao gosto da bailarina.
t. Assim
como chegou a bailarina, agora em companhia da rosa, distanciou-se com seus
passos sintonizados nos movimentos convexos daquela avenida, algo em seu ser denotava equilíbrio,
admiração, meiguice e uma força suave capaz de mudar a realidade da rosa, dora
em diante. Um doce perfume ficou no ar que expressava determinação, equilíbrio,
leveza, capacidade de concentração, e percebi que ela e a rosa iriam transpor os limites da
determinação...
u. A
gente se depara com belos gestos, apesar da situação aflitiva porque passa a
capital bandeirantes, espelho fidedigno do Brasil atual: desacionado por uma
corja de malfeitores do dinheiro publico, e precificado quase ao infinito por
ações politicas de gradual apropriação indébita. Esperamos sim um golpe, mas de
vento arcano, de legitima brasilidade, para afastar de vez esta espécie
perversa de ‘ liquida tudo’
orçamentaria de parlamentares inescrupulosos, encerrar de vez este capitulo
escuso da nossa história pátria, que se
possível fora faria estremecer na tumba
Sir Ruy Barbosa e o monarca, o mais brasileiro de todos: D. Pedro II. E
São Paulo, agregadora fiel e vigilante de todos os brasileiros, guarda em seu
bojo sagrado o sonho latente de liberdade e bem comum, pode apostar que sim!
v. E
a tarde amena se foi, como se vão seus transeuntes, viveram um momento de lazer
maravilhoso com sua família; a Igreja da Imaculada anuncia o Angelus, muitos
fiéis católicos se aglomeram em seu interior, ouve-se o barítono entoar o
gloria, depois o credo, e a presença real do Cordeiro vem visitar seu rebanho,
depois o Agnus Dei, e finalmente o Ite Missa Est.
A noite chega de mansinho na avenida das idas e vidas, amanhã será segunda
feira e a batalha por dia melhores para
sua prole não sairá do peito, mãos e pés do paulistano , afeito às agruras do
trabalho, ao transito congestionado e tudo o mais, mas valeu a pena, ele vai
aguardar outro domingo para espairecer os ânimos...
w. O
véu da noite cobre o sol, o frio começa a aparecer e dizer: não esqueçam estou
aqui... Olhe o lado bom de minha temperatura, tire do armário seu casaco de
veludo, calce as botas, fique mais elegante, frequente o café, leia um livro, e
não esqueça que tem irmão morador de rua com carência de tudo, reparta o pão,
dê-lhe um aperto de mão, solidariedade é bom, aquecerá seu coração, e um dia o
norte certo lhe dará a monção de um fogão quente e fartura incipiente, quer
dizer esta singela canção!
x. O
velho e o novo se encontraram, confabularam em prosa amena, restou apenas ideias abstratas, a esperar voos
concretos na mente de um certo poeta de tez serena, sorriso franco,
‘interiorano’ que se fundiu ao ‘cosmopolita’ no dizer de Math minha irmã querida... que avalizo nesta
escrita; embora perceba que estou novamente sozinho na multidão, olho de
soslaio que a cidade carrega um quê de pujança, crise existencial, apreensões,
pois sua fé esmaecida, não suporta a levitação, o seu tempo de consumo de bens duráveis foi-se, a
passarela fashion já não encanta sua psique, os modismos de
comportamento estranho, e contra a natureza ais a afastaram da consecução de seu destino
ultimo. E só uma volta ao imponderável conseguirá dela o retorno a casa do pai
das luzes.
y. Bem,
minha diva, mentora destes versos, a noite cerra seus véus de prata, lâmpadas
de neon ofuscam dela o sentido transcendental de sua existência, e a cidade
torna-se fleumática ao extremo, ela se trona, encolhe sonhos, ilusionada, parece uma dama ornada para a
festa com falsos anéis, e o brilho de sua face torna-se incolor a medida que sua
maquiagem excessiva quer cobrir as rugas de seus desamor, e queda pensativa,
outrora se tornou o eldorado das oportunidades para tantos que aqui aportaram,
hoje o movimento é inverso e pouco há pouco percebe que sua senectude a afasta
mais e mais... sua riqueza esvaiu-se em bolhas de sabão levadas pelo vento do
esbanjamento. Mas no fundo carrega um riso irônico no canto de seus lábios
sinceros .Ah, ela já viu passar em seu habitat, tanto amor, tanto ódio e
traição, tantas querelas e desavenças, tantas aventuras, mas em contraponto
tanta fé, tanta virtude e bem estar social, que ela agora vive de saudades,
remorsos... zabaneira que foi do seu passado.
z. Mas
no fundo no fundo ela almeja ainda a
voltar a gerir os destinos do Brasil, qual cão de guarda carrega consigo
reservas de generosidade e heroísmo, e ao mesmo tempo vivida, tem algo de
esperança em seu olhar... que ela mesmo não sabe definir ao certo, mas que se
renova a cada dia. tem, ora se tem! Ela
tergiversa entre o concreto de sua vida, e o abstrato de suas concepções
anímico- empíricas, ao mesmo tempo que quer ter, o freio do ser a controla,
contrastes de sua maneira de agir e enxergar a realidade que não a enlouquece
mas aquece sua trajetória de fazer historia...
aa. Um
duelo existencial que mantém seu equilíbrio, a faz humilde, inspiradora,
protetora e incentivadora das artes e canções, pois sem esta faceta concreta
misturada à abstrata, ela a cidade de
São Paulo, não privaria com seus poetas
das avenidas intuitivas, seu sonho latente de mundo bom!
Epilogo
No
meu caso, sai vagando pelo mundo afora, deixei minha terra, o riacho, o pé de
jenipapo, fogão quente, e sobretudo o carinho de minha bondosa mãe, e de meus amados irmãos, e numa tarde de outono estival, peguei a
viação Itapemirim e parti... Em lá chegando avistei uma metrópole barulhenta, e
pensei comigo não esquenta a moringa, pois é aqui que sua vida recomeça. Sofri
á beça, mas sobrevivi, aprendi a rimar para passar o tempo e esquecer a triste
sina de certo moço interiorano em meio ao concreto protendido. Um rapaz cheio
de sonhos que iria viver em meio ás
agruras da cidade grande. Foi o bastante para me inspirar, tanto que sobrevivi,
com a graça do bom Deus estou novamente aqui! Certa feita encontrei uma bela dama, ao que logo me
perguntou: - Seu esbelto moço cadê suas
malas? Eu a fitei por uns instantes, respirei fundo tentando encontrar o
bastante das palavras certas, e respondi
com a voz embargada: - Senhora das mil
faces, minha mala e este alforje de
pano cru, e meu cadeado é o nó de embira! Ela me observou demoradamente,
ensaiou um passo em minha direção, vi o brilho em seus olhos cor de mel,
Ela aprochegou de mansinho, me enlaçou forte e sussurrou em meus
ouvidos: ‘- Não se avexe não poeta, aqui
tem lugar para vancê, juntos vamos
cantar versos e mais versos na humildade e confessar para toda esta cidade e para o mundo inteiro, ser fugaz o som das
letras.’ O enlace não é que deu
certo, nos entendemos demais, e esta sintonia sagrada já dura uns bons 28 anos! Seu nome, o
nome doce e suave de minha confidente: Ars Poiésis.
Posfácio
Déia
querida, me alonguei, em uma prolixidade
sem fim... não liga não seu amigo é
assim mesmo, acho que foi o leite materno, aquelas subidas e descidas
i{íngremes da serra dos Pirineus, e os bancos duros do seminário, as longas
horas da filosofia tomista, em Niterói e Campos, as incertezas do caminho...
sei lá o que, sô! Então o perambular pela grande Urbe, de ressonância
inquietante, que me agregou incondicionalmente na clarividência contrastante do
seu consciente coletivo, me empurrou para o fazer poético, compensando perdas
alheias ao meu querer primeiro,. Daí a ideia louca de anotar no papel gipseo minhas
impressões acerca de sua versão intimista.
E
na trilha resolvi escrever sobre ela, de
A a Z – explico-me se consigo!
Ah! ela carrega em seu bojo algo de sagrado e profano em constante evolução,
não nega claramente suas origens, mas afirma ser futurista do ter, abre sua perolas em conchas do ser, e não quer saber o que perdeu, o A,
que bem poderia se auto intitular: atitude altaneira, alteridade
convexa, anverso na antítese. E o Z: cidade
zagaia da sorte, do zonza, do zoom, e
sobretudo extremamente Zelosa. De direitos e obrigações bem definidos,
séria, grave, alegre, taciturna.
Enfim
, foi bom, muito bom estar com você , que considero inspiradora destes versos,
inversos ao amanhecer, neles esbocei realidades, das contrariedades me apartei,
estive inteiro no que escrevi, obsequioso ao extremo à cidade que carrega ainda
hoje, depois de muito chão um quê de bondade, um quê de esperança, um suspiro
pelas coisas certas, apesar dela ostentar o que não possui mais; seu aluvião
atual, suas esquinas e avenidas carregam ainda saudades de seu passado,
tremores de seu presente, e uma vontade danada de voltar a ser a locomotiva
atuante da verdade, do belo e do movimento retilíneo correto para todo o
Brasil, seu povo e suas miragens de cidade nação. Quem sabe um dia ela vai
conseguir dosar na dose certa sua percepção de ser para ter...
Assim termina a Carta de Sítero, em
uma visão intimista da cidade de São Paulo, quem ler estes versos, escritos ao
amanhecer, agradeço de antemão a consideração, pois seu olhar será minha satisfação,
um incentivo precioso a um certo andarilho das letras soltas, interiorano de
origem, cosmopolita por opção lírica, que resolveu imprimir as razões de Sampa
em forma de gratidão hoje postada em forma de canção as afinações do mundo bom!
Traz uma vontade danada de abraçar esta cidade de contrastes mil, de acentuação
tônica que se chama Sampa. Sem ela não teria proposito, meio e ação para
concluir, intuir o que você acabou de ler.
Conclusão
Ao desembarcar abri a janela de minha alma, um vento suave
ventilou minha vida... desci da boleia do destino e passado tanto tempo posso
relatar alegre sobre a cidade que me acolheu e agregou de pronto ao seu sonho
latente de liberdade e bem comum, e reparti consigo estas emoções, é que de
melhor se pode oferecer em meio à
catarse anunciada, ainda resta a ela força escondida, o desejo inconfessado de
democratizar a arte, a cultura e o conhecimento.
Neste chão concreto, me dispus a
semear um pouco da semente interiorana, que misturada à citadina fez brotar
rosas em meio a duro concreto protendido, e no repente do ritmo empírico deixo
a todos os que lerem estes versos um longo e sincero abraço de união, pois
somos todos nós e seremos assim!
Na verdade, a cidade me ensinou a desacorrentar a inspiração de suas esquinas
intuitivas, espantar a solidão, intuir seu movimento, entender seus juramentos,
inquirir de seus julgamentos, e depois encher o papel em branco com versos de
alento.
Se alguém me indagar, então o que faço
nesta cidade? Eu diria que ando pelas ruas de São Paulo para recolher alguma
inspiração que sobeja nas mesas de bar, depois o exercício de anotar no
guardanapo, ver formar uma letra
esparsa, e em seguida distribuir a quem
passa e se demora com um quase poeta... e se detém neste longo caminho estendido...
Não mais que isso!
Se disser, que porventura estas rimas
mínimas, enfunadas com gosto pensado, é
que empurram as velas do poema em demanda deste tal mundo bom das certezas
empíricas, irei discordar um tanto e afirmar que são os ventos invisíveis da
inspiração coletiva desta cidade que soem acontecem tal finalização!
Helder
Tadeu Chaia Alvim,
São
Paulo, 9 de julho de 2016
aniversário
da Revolução Constitucionalista de 1932
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