segunda-feira, 7 de novembro de 2011

talis vita, finis ita e o depois...

1. Hoje o tema é denso, de uma densidade que me assombra, mesmo quem costuma refletir sobre a última viagem a que todo ser humano está destinado a fazer, treme nas bases só em imaginar, seu moço. Mas vamos lá, o assunto interessa a todos, se você julgar conveniente o conselho ao que parece  será proveitoso.

2. Uns vão na primeira hora, outros arrumam as malas demoradamente, a quem sai de casa para voltar e não regressa mais, outros tombam no dever como o cinegrafista Gelson Domingos da Silva da TV Bandeirantes, morto ontem domingo 06/11 durante a cobertura de uma ação policial na Comunidade de Antares-RJ.

3. Um dia sei que vou morrer, deixar pais, irmãos, filhos, esposa, os velhos amigos do copo, a casa, minha cidade, algum poema inacabado, o carro na garagem, a aposentadoria, o cargo de chefia, o guarda roupa com aquele casaco preferido, o chapéu prada, a bicicleta, a camisa da torcida, o jardim, a sacada, o laptop, os contatos imediatos, a cozinha marmorizada, literalmente tudo, pois no alforje da viagem não cabe a matéria, só o espírito tem o bilhete picotado da ida sem volta.

4. Pode ocorrer de repente sem tempo das despedidas, ou numa enfermidade prolongada. Ou num simples clique virando a esquina. Abrirá para o interessado uma outra realidade a da alma, depois vem o juízo particular no tribunal sem apelação. O guardião da eternidade trará uma grande balança, as boas e más ações justapostas no livro da vida. O veredicto será estampado no pergaminho e anunciado pelo anjo servidor.

5. Se tiver sorte, após uma parada no purgatório para expiar as displicências, os pecados terá o passaporte carimbado, e confortavelmente poderá usufruir da luz beatífica indefinidamente.

6. Mas... se porventura má encontrar-se direcionado para o tormento sem fim, uma situação sem volta, definitivamente tormentosa, uma danação eterna na companhia nada agradável dos anjos decaídos.

7. Seu moço, vou olhar doravante por onde ando, o que faço e aproveitar o tempo que me resta longo ou curto para a devida preparação, afiançar um lote bem espaçoso lá em cima.

8. Quanto a mim, sem drama, vou ausentar-me destas rimas por uma semana inteira, fazer o que não fiz, abraçar o irmão distante, amparar o carente que clama, perdoar aquela ofensa tamanha, sorrir afagando a chama, confessar na Igreja próxima, receber a hóstia santa e contrito desfiar o terço da esperança.

9. E novamente sob a clave do sorriso afastar da alma os eternos prejuízos, aprumar o ciso, persignar-me em face aos perigos e prosseguir na trilha humilde, sem grandezas e aparências esnobes, um olho aqui e outro bem fixo na outra vida para o depois, bem o depois ser um paraíso, meu irmão querido!

10. Quando chegar o viático da unção, que as mãos da humanidade não estejam vazias, mas repleta de versos do coração. Este texto é dedicado à Virgem do Pilar.

Helder Tadeu Chaia Alvim

Um comentário:

Canjerana Alvim disse...

Acho que é isso! Até outro dia...

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