terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Sertão Iluminado


                   Sertão iluminado!

Acabou, seu moço, o nosso amado sertão, pois trote de burro, estribo de prata foi trocado pela zoada esquisita da tal caminhão de lata, carroceria quadrada,roda emborrachada, na subida ronca nem touro brabo, na descida desembesta igual notícia ruim, na curva apita, dizem que aquilo se chama “burzina”.

Acabou,seu moço, a emoção, a poesia e o encanto do nosso amado sertão.Ouvi falar, não sei dizer ao certo, que em Roseiral do Norte a energia elétrica Já chegou, depois do rádio transmissor o povo se entretém na praça com o tal televisor.

A escrita ta vindo, seu moço, à paisana, de fala mansa. A palavra não valerá uma libra na balança, embornal não terá serventia no estio, nem arado mais valia no plantio, não vai demorar alguns anos, desconfio.

Acabou, seu moço, os tempo de cabra macho, da ousadia, cevavam porco gordo, arruavam café no pasto, potro baio tinha endereço. O sertão das senzalas,das encruzilhadas, das patentes, dos segredos sem apreço, das pacas e irerês. Ele já não é mais o mesmo.

O sertão da clorofila esmaeceu, anoiteceu belo e promissor e acordou cortado pela fumaça à diesel, pelo ronco barulhento da moto serra, pela parabólica, pelo sonho equivocado de cidade grande.

Cessou por lá o canto mavioso da cigarra, o labor do João de barro, secou o pé de jenipapo, os vaga lumes emigraram para outras paragens e do coração do sertão fugiu a poesia daquelas horas livres e ninguém se lembrou mais de sua azáfama tardia... 

Helder Chaia Alvim

( Cantos da Antiga Era – verso 62 )

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